quinta-feira, 30 de setembro de 2010

....OS GÊMEOS QUE FIZERAM A MORTE DANÇAR!!!






OS GÊMEOS QUE FIZERAM A MORTE DANÇAR



        Na velha aldeia de Ifá tudo transcorria normalmente.
        Todos faziam seu trabalho,
        as lavouras davam seus bons frutos,
        os animais procriavam,
        crianças nasciam fortes e saudáveis.
        Mas um dia
        a Morte resolveu concentrar ali sua colheita.
        Aí tudo começou a dar errado.
        As lavouras ficaram inférteis,
        as fontes e correntes de água secaram,
        o gado e tudo o que era bicho de criação definharam.
        Já não havia o que comer e beber.
        No desespero da difícil sobrevivência,
        as pessoas se agrediam umas às outras,
        ninguém se entendia, tudo virava uma guerra.
        As pessoas começaram a morrer aos montes.
        Instalada ali no povoado, a Morte vivia rondando todos,
        especialmente as pessoas fracas, velhas e doentes.
        A Morte roubava essas pessoas e as levava para o outro mundo,
        longe da família e dos amigos.
        A Morte tirava a vida delas.
        Na aldeia morria-se de todas as causas possíveis:
        de doença, de velhice, e até mesmo ao nascer.
        Morria-se afogado, envenenado, enfeitiçado.
        Morria-se por causa de acidentes,
        maus-tratos e violência.
        Morria-se de fome, principalmente de fome.
        Mas também de tristeza, de saudade
        e até de amor.
        A Morte estava fazendo o seu grande banquete.
        Havia luto em todas as casas.
        Todas as famílias choravam seus mortos.

        O rei mandou muitos emissários falar com a malvada,
        mas a Morte sempre respondia que não fazia acordos.
        Que ia destruir um por um, sem piedade.
        Se alguém fosse forte o suficiente para enfrentá-la, que tentasse,
        mas seu fim seria ainda muito mais sofrido e penoso.
        Ela mandou dizer ao rei, por fim:
        "Para não dizerem que sou muito rabugenta,
        até concordo em dar uma chance à aldeia."
        E ria e escarrava ao mesmo tempo, dizendo:
        "Basta que uma pessoa me obrigue a fazer o que não quero.
        Se alguém aqui me fizer agir contra a minha vontade,
        eu irei embora."
        Depois, cuspindo nos seus interlocutores, completou:
        "Ma só vou dar essa oportunidade a uma única pessoa.
        Não vou dar nem a duas, nem a três."
        E foi-se embora dali,
        saboreando antecipadamente mais uma vitória.

        Mas quem se atreveria a enfrentar a Morte?
        Quem, se os mais bravos guerreiros estavam mortos
        ou ardiam de febre em suas últimas horas de vida?
        Quem, se os mais astutos diplomatas havia muito tinham partido?
        Foi então que dois meninos, os IBEJIS,
        os irmãos gêmeos
TAIÓ e CAIANDÊ,
        que os fofoqueiros da cidade diziam ser filhos de Osun com orunmilá,
        resolveram pregar uma peça na horrenda criatura.
        Antes que toda a aldeia fosse completamente dizimada,
        eles resolveram dar um basta aos ataques da Morte.
        Decidiram os
IBEJIS:
        "Vamos dar um chega-pra-lá nessa fedorenta figura."
        Os meninos pegaram o tambor mágico, que tocavam como ninguém,
        e saíram à procura da Morte.
        Não foi difícil achá-la numa estrada próxima,
        por onde ela perambulava em busca de mais vítimas.
        Sua presença era anunciada, do alto, por um bando de urubus
        que sobrevoavam a incrível peçonhenta.
        E o cheiro, ah, o cheiro!
        A fedentina que a Morte produzia à sua volta
        faria vomitar até uma estatueta de madeira.
        Os meninos se esconderam numa moita
        e, tapando o nariz com um lenço,
        esperaram que ela se aproximasse.
        Não tardou e a Morte foi chegando.
        Os irmãos tremeram da cabeça aos pés.
        Ainda escondidos na moita,
        só de olhar para ela sentiram
        como os pêlos dos seus braços se arrepiavam.
        A pele era branca, fria e escamosa;
        o cabelo, sem cor, desgrenhado e quebradiço.
        Sua boca sem dentes expelia uma baba esbranquiçada e purulenta.
        Seu hálito era de um fedor tremendo.
        Mas podia-se dizer que a Morte estava feliz e contente.
        Ela estava até cantando!
        Pudera, tendo ceifado tantas vidas
        e tendo tantas outras para extinguir.
        Mas o canto da Morte era tão cavernoso e desafinado
        que os passarinhos que ainda sobreviviam
        silenciavam como se fossem mudos brinquedos de pedra.
        O canto da Morte, se é que podemos chamar aquele ruído de canto,
        era tão desconfortável e medonho
        que os cachorros esqueléticos uivavam feito loucos
        e os gatos magrelos bufavam e se arrepiavam todos.
        Nesse momento, numa curva do caminho,
        enquanto um dos irmãos ficava escondido,
        o outro saltou do mato para a estrada,
        a poucos passos da Morte.
        Saltou com seu tambor mágico,
        que tocava sem cessar, com muito ritmo.
        Tocava com toda a sua arte, todo o seu vigor.
        Tocava com determinação e alegria.
        Tocava bem como nunca tinha tocado antes.
        A Morte se encantou com o ritmo do menino.
        Com seu passo trôpego, ensaiou um dança sem graça.
        E lá foi ela, alegre como ninguém,
        dançando atrás do menino e de seu tambor,
        ele na frente, ela atrás.
         
        O espetáculo era grotesco,
        a dança da Morte era, no mínimo, patética.
        Nem vou contar como foi a cena:,
        cada um que imagine por conta própria.
        E é bem fácil imaginar.
        Bem; lá ia o menino tocador
        e atrás ia a Morte.
        Passou-se uma hora, passou-se outra e mais outra.
        O menino não fazia nenhuma pausa
        e a Morte começou a se cansar.
        O sol já ia alto, os dois seguiam pela estrada afora,
        e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá.
        O dia deu lugar à noite
        e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá.
        E assim ia a coisa, madrugada adentro.
        O menino tocava, a Morte dançava.
        O menino ia na frente, sempre ligeiro e folgazão.
        A Morte seguia atrás, exausta, não agüentando mais.
        "Pára de tocar, menino, vamos descansar um pouco",
        ela disse mais de uma vez.
        Ele não parava.
        "Pára essa porcaria de tambor, moleque,
        ou hás de me pagar com a vida",
        ela ameaçou mais de uma vez.
        E ele não parava.
        "Pára que eu não agüento mais", ela implorava.
        E ele não parava.
         
       
TAIÓ e Caiandê eram gêmeos idênticos.
        Ninguém sabia diferenciar um do outro,
        muito menos a Morte, que sempre foi cega e burra.
        Pois bem, o moleque que a Morte via tocando na estrada sem parar
        não era sempre o mesmo menino.
        Uma hora tocava
Taió, enquanto Caiandê seguia por dentro do mato.
        Outra hora, quando
Taió estava cansado,
       
Caiandê, aproveitando um curva da estrada, substituía o irmão no tambor.
       
Taió entrava no mato e acompanhava a dupla sem se deixar ver.
        No mato o irmão que descansava podia fazer xixi,
        beber a água depositada nas folhas dos arbustos,
        enganar a fome comendo frutinhas silvestres.
        Os gêmeos se revezavam e a música não parava nunca,
        não parava nem por um minuto sequer.
        Mas a Morte, coitada, não tinha substituto,
        não podia parar, nem descansar, nem um minutinho só.
        E o tambor sem cessar, tá tá tatá tá tá tatá.
        Ela já nem respirava:
        "Pára, pára, menino maldito."
        Mas o menino não parava.
        E assim foi, por dias e dias.
        Até os urubus já tinham deixado de acompanhar a Morte,
        preferindo pousar na copa de umas árvores secas.
        E o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá,
        uma hora
Taió, outra hora Caiandê.
         
        Por fim, não agüentando mais, a aparição gritou:
        "Pára com esse tambor maldito
        e eu faço tudo o que me pedires."
        O menino virou-se para trás e disse:
        "Pois então vá embora e deixe a minha aldeia em paz."
        "Aceito", berrou a nauseabunda, vomitando na estrada.
        O menino parou de tocar e ouviu a Morte dizer:
        "Ah! que fracasso o meu.
        Ser vencida por um simples pirralho."
        Então ela virou-se e foi embora.
        Foi para longe do povoado, mas foi se lastimado:
        "Eu me odeio. Eu me odeio."
        Só as moscas acompanhavam a Morte,
        circundando sua cabeça descarnada.
         
        Tocando e dançando,
        os gêmeos voltaram para a aldeia
        para dar a boa notícia.
        Foram recebidos de braços abertos.
        Todos queriam abraçá-los e beijá-los.
        Em pouco tempo a vida normal voltou a reinar no povoado,
        a saúde retornou às casas e a alegria reapareceu nas ruas.
        Muitas homenagens foram feitas aos valentes Ibejis.
         
        Mesmo depois de transcorrido certo tempo,
        sempre que
Taió e Caiandê passavam na direção do mercado,
        havia alguém que comentava:
        "Olha os meninos gêmeos que nos salvaram."
        E mais alguém complementava:
        "Que a lembrança de sua valentia
        nunca se apague de nossa memória."
        Ao que alguém acrescentava:
        "Mas eles não são a cara do Adivinho?"


Extraído de Reginaldo Prandi, Ifá, o Adivinho. São Paulo.

OBS: MAS QUANDO SE TRATA DO CADOMBLÉ, E VAMOS MEXER COM IBEJI, EXISTE O TERCEIRO  A SER AGRADADO, CHAMADO  INKITA[IDOWU]......EXPLICANDO:



TAIWO: (m/f) O primeiro que nasce entre os gêmeos. Será uma pessoa insegura, indecisa e muito dependente.
KEHINDE: (m/f) O segundo que nasce entre os gêmeos. Será uma pessoa firme, dominadora e conquistadora.
IDOWU: (m/f) O filho que nasce depois dos gêmeos. Será uma pessoa intolerante, encrenqueira, protetor da família e sucedida na vida.
ALABA ou IDOGBE: (m/f) O filho que nasce depois Idowu. Será uma pessoa responsável, observadora e trabalhadora.
ETA OKO : (m/f) O terceiro que nasce entre os trigêmeos. Será uma pessoa responsável, insegura, indecisa e muito dependente.

......FALANDO SOBRE O SACRIFÍCIO.....

















SACRIFÍCIO NOS TEMPOS REMOTOS 
Dentre os vários assuntos já muito discutidos, temos os ritos que envolvem os sacrifícios animais praticados habitualmente em nossos Rituais. Inicialmente gostaríamos de relatar que presenciamos regularmente em uma avícola o absurdo que é praticado para matar as "galinhas" que são consumidas com a maior naturalidade e desrespeito pelos clientes assíduos daquele comércio. Existem naquele local alguns cones de aço inox, posicionados em fila indiana, sobre um aparador também de aço inox. No pescoço das aves, próximo à cabeça, é feito um corte com faca e o animal é enfiado de cabeça para baixo no cone, onde se debaterá por vários minutos até que todo o seu sangue tenha escorrido para dentro do "aparador", provocando-lhe a morte. A população não vê esse método de abate como "aterrorizante", provocando extremo sofrimento aos animais até que cheguem à morte. Excluídas as vezes em que a grande clientela não deseja esperar muito tempo e os animais são colocados, ainda vivos, em um caldeirão com água fervente a fim de que lhe sejam extraídas as penas mais rapidamente. Este é um aspecto "comercial" onde poucos sentem dó ou reclamam desta forma ainda medieval, portanto cruel, de abate em avícolas.
Os Cristãos, Católicos e Protestantes, são os que mais repudiam o nosso sacrifício animal. Eles deveriam estudar mais o seu Antigo Testamento, em específico o "Levítico", onde os sacrifícios, não só de animais, são relatados.O livro de Levítico é o código das leis dadas por Deus a seu povo através de Moisés no Sinai. "As cerimônias e outros ritos e normas não eram um fim em si mesmas. A oferta do sacrifício dia após dia, ano após ano, a recordação anual do dia da expiação recordavam constantemente a Israel o pecado que o separava da presença de Deus. Os israelitas infringiam a aliança com ele desobedecendo as suas leis e estavam condenados à morte. Mas Deus, na sua misericórdia, mostrou-lhes que haveria de aceitar um sucedâneo, a saber, a morte de um animal perfeito e inocente em lugar da vida do pecador. Suas leis mostram que Deus age em harmonia com as leis naturais para o bem do povo.", escreve o autor.

Levítico 1-7 – Os Sacrifícios
1 - O Holocausto (capítulo 1 e 6,1-6) único sacrifício em que se queima o animal todo, um sinal de consagração.
2 - Ofertas de cereais ou de farinhas (capítulo 2 e 6, 7-11) acompanhavam muitas vezes o holocausto e o sacrifício de comunhão (item 1 acima).
3 - O sacrifício da comunhão (capítulo 3 e 7, 11-36)
4 - O sacrifício do pecado (4,1-5,13 e 6, 17-23)
5 – O sacrifício da reparação (5,14-26 e 7, 1-10)
O Fiel trazia sua oferta (um animal sem defeito físico tirado da própria manada ou rebanho ou, no caso do povo pobre, rolas ou pombos) até o pátio diante do tabernáculo.
Colocava a mão sobre ele para significar que o animal o representava e depois o imolava (sacrificava). Se o sacrifício era público o Sacerdote era quem realizava essa operação. O Sacerdote tomava a bacia com o sangue e com ele espargia no altar, queimando a seguir algumas partes específicas do animal que continham determinadas porções de gordura. O que restava era consumido pelos Sacerdotes e suas famílias ou ainda pelo Sacerdote junto com os ofertantes.

Os sacrifícios exprimiam a gratidão do indivíduo pela bondade de Deus, ou eram simplesmente manifestações espontâneas de devoção e homenagem. O sacrifício pelo pecado e o sacrifício da reparação (Levítico 4-5, 26) referem-se às transgressões contra a lei de Deus ou situação em que foi cometida uma falta contra o próximo, porém ambos demonstram a exigência de enfrentar o pecado pelo uso do sangue.
O Sacerdote como representante de Deus tinha a função de declarar se o fiel e sua oferta eram aceitos ou rejeitados por Deus.
A prática do sacrifício animal remonta ao início das relações entre Deus e os homens (Gênesis 4,4) e no Novo Testamento explica a morte de Jesus (Hebreus 9,11). O Levítico 17,11 diz que o sacrifício é algo dado por Deus ao Homem. A pessoa que leva a oferta apodera-se da vida do sangue animal sacrificado e pode doá-la a Deus, injetando nova vida nas suas relações com Deus, revitalizando o seu dia a dia.
Por que devemos ficar aqui citando longamente as Escrituras Sagradas Judaicas e Cristãs se nosso objetivo é a Religião  do Òrìsà?
Este é um pequeno espaço para a dignificação da Religião  do Òrìsà, tão agredida pelas Doutrinas Cristãs, principalmente pelos Protestantes. Então, cabe-nos o direito de mostrar quão hipócritas são aqueles que nos agridem e nos repudiam com bases em seus Livros Sagrados, que mostram largamente a pratica de ritos idênticos aos nossos e com a mesma simbologia.

Então dirão os Umbandistas assim como os Cristãos:
_ Nós abolimos esses ritos!
E respondemos à altura:
_ A Religião de Òrìsà é extremamente tradicionalista e não muda sua liturgia com fins hipócritas, somente para agradar a visão leiga dos fiéis na tentativa de obter fins lucrativos. O que era feito há 10.000 anos é mantido até hoje por nós, mas não com uma conotação diabólica como desejam nos impor usando uma mídia já desgastada. Hoje o Homem é culto, busca se informar e encontrará a verdade relativa ao nosso mundo religioso. O culto de Òrìsà nunca esteve envolto ao mundo da Magia Negra, ao baixo astral, ao Satanismo ou muito menos ligado aos demônios somente porque realizamos em nossos ritos o sacrifício animal.
Nós pregamos os ensinamentos de orisá que são puros em sua essência, não ficamos pregando mais os atos dos demônios do que a palavra de Deus tirada de livros sagrados de autoria duvidosa. Nossa doutrina religiosa foi mantida pela boa vontade do Homem fiel e temente a Deus, mantendo todos os nossos conhecimentos na memória e transmitindo-os pela oralidade  ancestrais através das lendas[itans]
Não temos livros sagrados adaptados a cada momento da história em decorrência das necessidades das instituições religiosas. Não expulsamos demônios em forma de "teatro" para enganar pobres coitados crédulos dizimistas que acreditam nas encenações de atores bem pagos para se contorcerem em público ou darem testemunhos suspeitos, sempre idênticos, sem provas. Não "amarramos" espíritos ruins em nome de Deus. O que desejamos é somente poder expor que nossa Religião, a Religião de Òrìsà, tem como objetivo Re-ligar o Homem a Deus através da manutenção de ritos tradicionalistas; através de uma hierarquia rígida mantida entre os seguidores e Iniciados; através da exigência de uma conduta honrada e moral dentro das verdadeiras casas de candomblé . Desejamos mostrar com clareza que nossos verdadeiros Sacerdotes e sacerdotizas são homens  e mulheres sábios, estudiosos e perseverantes na sua religiosidade, tudo isso com base em uma filosofia mitológica milenar. Qualquer outra versão não tem sustentação real, tratando-se de invencionismo de muitos que pretendem impressionar ou lucrar em benefício próprio usando o nome dos Òrìsà.

Se fazemos sacrifícios é porque somos autorizados por Deus, conforme também era praticado em Israel. Não podemos esquecer que nas mesquitas, anualmente, até os nossos dias, é sacrificado um cordeiro para Alláh (Deus). Mas ninguém pode de agredir o Islã. E sabemos muito bem o porquê! Èjè (sangue) é vida, todos nós aprendemos isso nos  terreiros verdadeiramente consagrados aos Òrìsà. Tiradas as partes sagradas dos animais que são ofertadas às Divindades, o restante é consumido pelos ofertantes. Não há desperdício nas Ilé Òrìsà, em respeito à natureza, conforme nos determinam as Divindades. Os animais ofertados não podem sofrer ao serem imolados, conforme nos determina o Òrìsà Ògún Olóòbe, a Força proprietária da Faca.
O ritual é cercado do máximo respeito seguido de procedimentos de abstinência, onde a pureza e a limpeza espiritual e orgânica dos presentes é exigida com rigor para que eles possam participar desse tipo de oferenda e só aos Iniciados devidamente preparados por anos, cabe exercer o ato de imolar o animal. Isso não cabe a qualquer pessoa despreparada. Há uma liturgia a ser seguida a risca em detalhes, onde o omi (a água), epo pupa (azeite de dendê), wuara (o leite), oyin (o mel), iyò (o sal), otí (a aguardente), ataare (a pimenta) são orados e encantados recebendo pela palavra propriedades mágicas, para poderem ser ofertados às Divindades como símbolos de doçura, progresso, prosperidade, fartura, fertilidade, alegrias e paz afim de que essas bênçãos sejam retribuídas a todos em troca da oferta. Sem que nunca se esqueça de ofertar para ONÍLÈ (a terra) sua parte, pois é ela quem sustenta os nossos pés.
Esta frase metafórica  nos ensina que é a Mãe Natureza quem nos permite mais uma reencarnação na Àiyé (na Terra) e por isso devemos mostrar nossa gratidão a ela durante os ritos de oferendas. Só pode ver maldade em uma ritualística dessa quem é mal no mais profundo de sua essência intima, no próprio caráter ou pelo desconhecimento, acabando por julgar sem saber o que verdadeiramente está sendo realizado num ritual em nome de Deus.
Pois graças a esse Deus universal, Elédùmarè nós não fazemos apologia aos demônios, pois os desconhecemos na nossa cultura religiosa. Para a Cultura Religiosa Yorùbá Deus não "permitiria que os Anjos Caíssem".
QUEM FAZ MAL AOS HOMENS É O PRÓPRIO HOMEM!
A Religião Animista Òrìsà não deseja ser melhor que as outras Religiões. Deseja somente ser respeitada, assim como sabe respeitar. Desejamos somente que as pessoas possam cumprir seu papel em mais uma passagem pela Vida no Àiyé com auxílio dos ensinamentos dos nossos mais velhos. Desejamos somente crescer nas experiências de viver. Desejamos poder aprender a conviver num mesmo espaço físico com os outros homens, porque o nosso espírito não tem para onde evoluir já que o Homem é um Deus-finito. Evoluir o espírito do Homem seria tentar superar a Deus, pois o nosso espírito foi criado de Deus, portanto somos partículas divinas. Já fomos criados sendo deuses. Tudo o que necessitamos já recebemos de Deus no momento da Criação, só temos que aprender a usar o que nos foi dado por Ele.

.....LILITH.....MULHER OU DEMÔNIO???

A palavra Lilith vem do sumério Lulu, que significa libertinagem.Lilith (לילית em hebraico) é conhecida como um demônio feminino da noite que originou na antiga Mesopotâmia. Lilith era associada ao vento e, pensava-se, por isso, que ela era portadora de mal-estares, doenças e mesmo da morte. Porém algumas vezes ela se utilizaria da água como uma espécie de portal para o seu mundo.Dentro da Filosofia Gnóstica, o Inferno da Terra é regido por dois demônios, Lilith e Nahemah. Nahemah rege as duas primeiras Esferas, ou Círculos Dantescos, onde vibra uma classe de infra-sexualidade ligada ao adultério, às paixões, à bigamia, à fornicação etc. Lilith dirige as outras 7 Esferas infernais, onde reina a sexualidade mais depravada, onde se vê o homossexualismo e o lesbianismo, a masturbação e as taras e todos os tipos de fantasias sexuais .A imagem de Lilith, sob o nome Lilitu, apareceu primeiramente na Suméria por volta de 3000 A.E.C. Muitos estudiosos atribuem a origem do nome fonético Lilith por volta de 700 A.E.C.Lilith figura como um demônio da noite nas escrituras hebraicas (Talmud e Midrash). Lilith é também referida na Cabala como a primeira mulher de Adão, sendo que em uma passagem (Patai81:455f) ela é acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido. No folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira esposa de Adão, que o abandonou, partindo do Jardim do Éden por causa de uma disputa, vindo a tornar-se a mãe dos demônios. De acordo com certas interpretações da criação humana em Gênesis, no Antigo Testamento, reconhecendo que havia sido criada por Deus com a mesma matéria prima, Lilith rebelou-se, recusou-se a ficar sempre em baixo durante as suas relações sexuais. Na Suméria e na Babilônia ela ao mesmo tempo que era cultuada era identificada com os demônios e espíritos malignos. Seu símbolo era a lua, pois assim como a lua ela seria uma deusa de fases boas e ruins. Alguns estudiosos assimilam ela a várias deusas da fertilidade, assim como deusas cruéis devido ao sincretismo com outras culturas. No fictício Livro de Nod, é também conhecida como Deusa da Lua, aquela que ensina Caim habilidades vampíricas, a que é tão antiga quanto o proprio Deus criador do céu e da terra.A imagem mais conhecida que temos dela é a imagem que nos foi dada pela cultura hebraica, uma vez que esse povo foi aprisionado e reduzido à servidão na Babilônia, onde Lilith era cultuada, é bem provável que viam Lilith como um símbolo de algo negativo. Vemos assim a transformação de Lilith no modelo hebraico de demônio. Assim surgiu as lendas vampíricas, Lilith tinha 100 filhos por dia, súcubus quando mulheres e íncubus quando homens, ou lilims. Eles se alimentavam da energia desprendida no sexo e de sangue humano. Também podiam manipular os sonhos humanos, seriam os geradores das poluções noturnas. Mas uma vez possuído por um súcubus dificilmente um homem saía com vida. Três anjos foram enviados em seu encalço,quando ela deixou o Éden porém ela se recusou a voltar. Juntou-se aos anjos caídos onde se casou com Samael que tentou Eva ao passo que Lilith Tentou a Adão os fazendo cometer adultério. Então o homem foi expulso do paraíso e Lilith tentaria destruir a humanidade, filhos do adultério de Adão com Eva, pois mesmo deixando seu marido ela não aceitava sua 2ª mulher. Ela então perseguiria os homens, principalmente os adúlteros, crianças e recém casados para se vingar.Após os hebreus terem deixado a Babilônia Lilith perdeu sua representatividade e foi limada do velho testamento. Eva é criada no sexto dia, e depois da solidão de Adão ela é criada novamente, sendo a primeira criação referente na verdade a Lilith no Gênesis.Algumas vezes Lilith é associada com a deusa grega Hécate, "A mulher escarlate", um demônio que guarda as portas do inferno montada em um enorme cão de três cabeças, Cérbero. Nos 2 últimos séculos a imagem de Lilith começou a passar por uma transformação em alguns círculos intelectuais europeus, por exemplo, na literatura e nas artes, quando os românticos passaram a se ater mais a imagem sensual e sedutora de Lilith , e aos seus atributos considerados impossíveis de serem obtidos.De acordo com Hermínio, "Lilith foi feita por Deus, de barro, à noite, criada tão bonita e interessante que logo arranjou problemas com Adão". Esse ponto teria sido retirado da Bíblia pela Inquisição. a sabedoria rabínica definida na versão jeovística, que se coloca lado a lado, precedendo-a de alguns séculos, da versão bíblica dos sacerdotes. Sabemos que tais versões do Gênesis e o mito do nascimento da mulher são ricas de contradições e enigmas que se anulam.Durante os primeiros séculos da era cristã, o mito de Lilith ficou bem estabelecido na comunidade judaica. Lilith aparece no Zohar, o livro do Esplendor, uma obra cabalística do século 13 que constitui o mais influente texto hassídico e no Talmude, o livro dos hebreus. No Zohar, Lilith era descrita como succubus, com emissões noturnas citadas como um sinal visível de sua presença. Os espíritos malignos que empesteavam a humanidade eram, acreditava-se, o produto de tais uniões. No Zohar Hadasch , está escrito que Samael , junto com sua mulher Lilith, tramou a sedução do primeiro casal humano. O Talmude menciona que "Quando a serpente envolveu-se com Eva, atirou-lhe a mácula cuja infecção foi transmitida a todos os seus descendentes...

....FALANDO SOBRE OBI ABATA....








OBI ABATA


OBI ABATA - TERMINOLOGIA
Na Diáspora a palavra “obi” pode significar muitas coisas diferentes para muitas pessoas diferentes.
Para eliminar um pouco de confusão enquanto lê este material é importante fazer algumas notas relativas ao vocabulário, especialmente os vários significados da palavra “obi”.

A NOZ DE COLA

0BÌ FRUTO DE UMA PALMEIRA AFRICANA (COLA ACUMINATA, SCHOTT. & ENDL. – STER-CULIACEAE) ACLIMATADA NO BRASIL. INDISPENSÁVEL NO CULTO DOS ORISÁ, ONDE SERVE DE OFERENDA PARA OS ÒRÌSÀ E É USADO NAS PRÁTICAS DIVINATÓRIAS SIMPLES, SEPARADO PELAS MÃOS EM PEDAÇOS.
O BROTO DO OBÌ: TIRA-SE PARA IMOBILIZAR A GERMINAÇÃO. PARA UM OBÌ GERMINAR É PRECISO DE TODAS AS SUAS PARTES. SE ISTO É OBSTRUÍDO, É NECESSÁRIO NÃO DEIXAR OS GOMOS EM INCUBAÇÃO. UM GOMO ESTÁ SEPARADO DO CONJUNTO. SERIA MAIS OU MENOS UM PADECIMENTO. POR ISTO QUE DIZEMOS IPA OBÌ, MATAR O OBÌ.

A palavra “obi”, se refere à noz de cola fresca nativo da África, especificamente o OBI ABATA. Varia de branco, a escuridão vermelho, em cor.
É DITO QUE O OBI VEIO A AIYE (TERRA) COM DUAS IRMÃS – OBI ABATA E OBI GBANJA. OBI ABATA, O TIPO DE OBI USADO EM ADIVINHAÇÃO, É COMPOSTO DE TRÊS A SEIS LÓBULOS QUE SÃO DIVIDOS (ABERTOS), com as mãos, NUNCA COM FACA, E USADOS COMO ORÁCULO EM OFERECIMENTOS PARA OS ANTEPASSADOS E ORISA. O OBI ABATA É UM INGREDIENTE PRINCIPAL NA MAIORIA DOS RITUAIS DE IFA'ORISA SAGRADOS E CELEBRAÇÕES.
Embora possam ser usadas outras configurações do Obi de vários modos, são os quatro lóbulos de Obi, também conhecido como Iya Obi (A Mãe Obi).
OBI GBANJA É A NOZ DE COLA QUE SÓ POSSUI DOIS LÓBULOS. OBI GBANJA NÃO É USADO EM OBI ADIVINHAÇÃO, EMBORA É CONSUMIDO POR PESSOAS POR RAZÕES SECULARES, PRINCIPALMENTE DEVIDO A SEU ALTO CONCENTRAÇÃO DE CAFEÍNA E USADO COMO UM ESTIMULANTE. A PESSOA DEVERIA NOTAR QUE É FREQÜENTEMENTE O OBI GBANJA QUE É ACHADO EM LOJAS.
A PESSOA DEVERIA TER CUIDADO PARA VERIFICAR SE ESTÁ COMPRANDO OBI ABATA E NÃO OBI GBANJA QUANDO SELECIONANDO PARA RITUAL OU PROPÓSITOS DIVINATÓRIOS.

DIFERENTES TIPOS DE NOZES DE COLA

1. Obì – Noz de cola Acuminata. Obì e água (obì omi tùtu) são oferendas primordiais nos cultos afro-descendentes.
2. Obì àbátá ifin – Obi 4 partes branco - Oferenda exclusiva de Obatalá.
3. Obì abatá pupa – Obi vermelho. Serve de oferenda para qualquer ebora que não seja fun-fun, inclusive para Orí e Egun.
4. Obì edun = obì àáyá – (Cola Caricofolia– Sterculiáceae) – Cola de macaco Possui o fruto vermelho e brilhante. É comestível. - Desconhecido o uso ritualístico.
5. Obì àbàtà = obì gidi – (Cola Acuminata – Sterculiáceae) – Este é um tipo de nóz de cola vermelha que pode possuir de quatro a seis cotilenóides (awé). Típico para oferenda para qualquer Ebora.
6. Àjoòpa é uma nóz de kola doce e vermelha, grande e de qualidade superior.
7. Obì ifin = O mesmo àjoòpa, só que de cor branca. - Oferendado a Obatalá - Muitas vezes é dado como um presente ou como parte de um presente a uma pessoa importante.
8. Gbánjà = górò = awé méji. – (Cola Nitida – Sterculiáceae) – É vermelho e possui apenas dois segmentos como indica um de seus nomes (awé méji). Contém muita cafeína e por este motivo, se comido à noite, provoca insônia. A cafeína age como estimulante e excitante muscular. Combate a depressão e a hipertensão e sua ação rápida é também de curto efeito. Não Serve de oferenda Orisá.


OBI NOZ DE COLA

Era uma vez um belo rapaz, forte e saudável, cujo nome era Obi, seu trabalho era levar os recados dos homens, para os Orixás. Toda vez que um homem precisava fazer uma oferenda a uma divindade, ele deveria falar no ouvido de Obi todas as suas orações, pedidos e lamentações, e este, por sua vez, transmitiria os recados e traria uma resposta daquela divindade.
Com o tempo, Obi passou a ser mais requisitado pelos seus trabalhos, pois com sua ajuda tudo se tornara mais fácil, a resposta era imediata. Isso foi fazendo com que Obi ficasse muito orgulhoso e envaidecido, passando a cobrar preços cada vez mais altos pelos seus serviços, acumulando assim, muitas riquezas.
Obi sentia-se livre para agir desta forma, andava pelas ruas sem falsa modéstia, dizendo o quanto as pessoas precisavam de seus favores. O tempo foi passando e a situação chegou a tal ponto, que Exu ficou incomodado com as atitudes de Obi. Exu, que caminha entre o céu e a terra com muita facilidade, foi falar com Olodumare (o Deus Supremo), relatando tudo o que estava acontecendo na terra, especialmente o comportamento de Obi.
Olodumare ficou muito triste com o que Obi estava fazendo e tomou uma decisão, ir pessoalmente a casa de Obi, falar com ele, e ver quais seriam seus argumentos. O Deus Supremo, que nunca havia saído do céu anteriormente, seguiu em direção a casa de Obi, lá chegando, bateu na porta, e Obi foi atender, sem imaginar quem poderia estar do lado de fora, ao abrir a porta, tão grande foi seu susto, que caiu de costas no chão imobilizado, foi quando Olodumare disse a ele:
"Tanto foi o teu orgulho e vaidade que vim pessoalmente a sua casa para falar de minha tristeza, como reparação de seus erros, a partir de hoje nunca mais falará de pé, toda vez alguém precisar de teu trabalho é no chão que deverá te invocar, esse será o teu castigo para sempre".

E até hoje é assim que consultamos Obi, no chão. Sabemos toda lenda serve para nos transmitir uma mensagem filosófica.

...OS DEUSES DO CANDOMBLÉ....





 
 
 

 
 
 




ORIXÁS, OS DEUSES DO CANDOMBLÉ
(Extraído da OBI - Baba Ifaleke - Adilson Martins)

Embora prestando culto a inúmeras entidades ligadas aos Elementos Naturais, o Candomblé é entretanto, uma prática religiosa essencialmente monoteísta, uma vez que está fundamentada na crença da existência de um Deus Uno, origem de todas as coisas e de todos os seres, mesmo daqueles que, segundo Sua determinação, foram encarregados da elaboração do Cosmos e de tudo o que nele exista ou venha a existir.
Estas entidades, divididas hierarquicamente em diversas categorias, são os intermediários entre o homem e a Divindade Suprema, que se manifesta em todos, sem distinção, até mesmo nos seres situados nos mais baixos níveis da hierarquia estabelecida.
É importante ressaltar-se que, pelo menos aparentemente, não existe no Candomblé, qualquer rito destinado especificamente ao culto Divino e isto pode ser explicado pela concepção de seus seguidores relativa ao posicionamento da Divindade em relação ao ser humano. Segundo esta visão, Deus está tão distante do homem, embora  paradoxalmente esteja, em essência, presente em  cada um de nós, que inútil seria direcionar-lhe preces ou culto, existindo para isto, meios mais eficientes, embora indiretos.
Contradizendo o que vai afirmado acima, localizamos um culto ao Deus Supremo, que configura-se, de forma velada, na única ritualística que, se bem compreendida, pode ser considerada como direcionada a Olodumare numa de Suas mais gratas e sagradas manifestações.
Segundo a filosofia religiosa yorubana, o ser humano é composto de quatro elementos ou corpos que permitem, ao combinarem-se, sua estadia no mundo terreno.
O mais conhecido destes corpos é o físico, denominado "ARÁ" em Yoruba. É o corpo material que permite a plena manifestação do ser humano no plano físico e material da existência.



Outro destes elementos é o denominado "OJIJÍ", corpo ou forma telúrica, conhecido em outras escolas filosóficas como "sombra" ou "corpo astral". Trata-se de um doble exato de nosso corpo físico, que aprende tudo o que sabemos, adquire todos os nossos costumes, hábitos e vícios; nutre-se dos fluidos exalados pelos alimentos e bebidas por nós consumidos, e que, por este motivo, adquire as nossas preferências alimentares.
OJIJÍ é uma forma fornecida pela Terra, responsável pela guarda de nosso corpo físico, subsistindo, mesmo depois da sua morte, enquanto este não for inteiramente decomposto e, em forma de pó, entregue à Terra que forneceu toda a matéria de que foi formado.
É OJIJÍ que apresenta-se sob a denominação de "Egun", depois da morte do corpo físico.



O terceiro corpo é denominado "EMI". Seria também um protótipo criado em plano superior de existência e que serviria de projeto de nosso corpo físico. Emi é o sopro de vida que nos dá o ânimo e conseqüentemente, a condição para viver. Seria portanto o equivalente à alma da cultura judaica-cristã. Passa também por um processo de "morte" que ocorre algum tempo depois da morte física.
O quarto e mais importante componente, é "IPORÍ", a Essência Divina que, individualizada e desprendida de sua Origem, habita cada um de nós. Iporí teria por sede a cabeça (Ori) e, ao encarnar num novo indivíduo, perde a consciência de sua origem divina, de seus atributos e qualidades, embotado que fica pela queda e aprisionamento na matéria.
É Deus manifestado no homem e daí a revelação de Sri Krishna  contida no Bhagavad Gita:  "Eu estou em você, mas você não está em Mim..."
Sendo divino, Ipori é imortal e, cumprida mais uma fase de sua escalada evolutiva efetuada em diversas e sucessivas encarnações, retira-se para um local onde irá avaliar seu desempenho na última encarnação e preparar-se para uma outra.
Neste local, que os yorubanos chamam de Orun, assim que lhe seja dada permissão para um novo nascimento, Ipori escolherá seu próprio destino (Odu), assim como escolherá o Ori em que irá habitar na nova encarnação. Ao escolher Ori (cabeça), Iporí escolhe também o corpo, já que o corpo, para os yorubanos, nada mais é que uma extensão da cabeça, sede e comando de todo o conjunto. 


Segundo as crenças Yorubanas, a entidade encarregada de modelar ori, Babá Ajalá, é muito velho e descuidado, não mantém um padrão de qualidade em suas obras e, por relaxamento, utiliza-se de diferentes tipos de materiais para confeccionar seus modelos, lançando mão do material que lhe estiver mais próximo no momento em que estiver modelando.
Em decorrência, é muito difícil encontrar-se à disposição, cabeças de boa qualidade, o que justifica a diferença existente na maneira de ser dos seres humanos.
A lenda acima descrita contém importantes revelações esotéricas, fundamentais para a compreensão da relação homem-Orixá, principal fundamento de todo o contexto filosófico.
O que a maioria dos adeptos desconhece é que, são os Orixás que fornecem a matéria com a qual são confeccionados os Oris e desta forma, fica estabelecida a relação existente entre o ser humano e seu Orixá, ou seja, a entidade que forneceu ou "emprestou" a matéria com a qual sua cabeça e, por extensão, seu corpo, foram confeccionados, primeiro num plano superior em que a própria matéria apresenta-se mais sutil, embora essencialmente idêntica ao seu correspondente no plano físico e depois no plano, para nós plenamente perceptível, de forma densa e grosseira.



Babá Ajalá, o Modelador de Cabeças, é o simbolismo através do qual, os yorubanos tentam explicar a diversidade das características do caráter, do biofísico e do próprio desempenho do homem nesta vida.
Estabelecida desta forma, a relação homem-Orixá, resta-nos uma questão de fundamental importância: Por que razão, algumas pessoas são impelidas ou obrigadas a prestarem culto aos seus Orixás, enquanto outras passam pela vida sem sequer tomarem conhecimento de suas existências e, mesmo dentro do culto, observamos que alguns iniciados não são tomados por seus Orixás, embora prestem-lhe regularmente, reverências com sacrifícios e oferendas, como é o caso dos ogans e ekéjis ?
Segundo informações do Dr. J. Olatunji Oxo, nigeriano, sacerdote de Ogun:
       "Aos Orixás cabe o direito de, se assim quiserem, cobrar de seus filhos culto e oferendas como forma de "pagamento" (se é admissível o termo), pela utilização da matéria com a qual seus corpos foram confeccionados e que pertence a eles, Orixás."
Nos casos de pessoas que não são submetidas ao fenômeno de incorporação do Orixá, observa-se a superioridade hierárquica do Iporí em relação aos Orixás que, nos casos específicos de Ogans e Ekéjis, não permite que o Orixá, mesmo em se tratando do Olorí (Dono da cabeça) do indivíduo, se aposse ou se manifeste  nestas cabeças, o que implica em obliteração parcial e momentânea de sua presença.



Existe no entanto, um culto específico à Iporí, o que significa dizer que, existe um culto específico à Divindade Suprema aí manifestada. Este culto, por demais comum, nem sempre pressupõe iniciação e nunca estabelece vínculo espiritual entre o sacerdote que o oficia e a pessoa que a ele se submete.
De posse desta informação podemos avaliar a importância e a solenidade da referida cerimônia, denominada "Ebori" - Ebó Ori- (dar comida à cabeça), para a qual existem várias fórmulas e variações, que vão desde oferendas incruentas, até cerimônias de liturgia complexa conforme a descrita na obra de Pessoa de Barros .
A verdade é que, o culto aos Orixás, tem sua origem estabelecida em tempos imemoriais, havendo surgido provavelmente, logo após a antropogênese, assim que o ser humano, dotado da capacidade de raciocínio, percebeu a existência de forças e entidades superiores e com elas estabeleceu um primeiro contato.
O termo "Orixá" é de origem yoruba, pertencendo portanto, à cultura religiosa deste povo e refere-se à Deuses de seu panteão, considerados como regentes das forças da natureza.
 As mesmas entidades, com outras denominações, são, sem dúvida, cultuadas por diferentes povos de diferentes organizações culturais, o que nos possibilita afirmar que, seja qual for a religião adotada, o homem religioso sempre presta-lhes culto, embora de formas diferentes.
Para melhor compreensão, selecionamos algumas análises etimológicas do termo "Orixá":
Segundo Abraham, Orixá = Oosà - Divindade yorubana separada de Olórún...
Fonseca Jr., Orixá = Anjo de Guarda, etimo.: Ori = cabeça, Sa (xa) = guardião - Guardião da Cabeça, Divindade Elementar da Natureza, figura central do culto afro .
Os yorubanos acreditam que quando Deus criou o céu e a terra, criou simultaneamente, espíritos e divindades, conhecidos como Orixás, Imolés ou Eboras, para assumirem funções específicas no processo de criação, manutenção e administração do universo.
A diferença existente entre as três categorias de entidades espirituais aqui referidas não está muito bem delineada devido ao tratamento genérico dado a todas, até mesmo pelos próprios yorubanos.
No Brasil os termos Imole e Ebora são praticamente desconhecidos, sendo poucos os adeptos da religião que os utilizem ou saibam o seu significado. Estes dois termos fazem referência às entidades espiritais situadas hierarquicamente, imediatamente abaixo dos verdadeiros Orixás, mais próximas, portanto,  dos seres humanos. Entre elas se encontram aqueles que erradamente costumamos denominar Orixás, como Ogun, Oxóssi, Xangô, Oxun, Iyemanjá, etc..
O uso indiscriminado, embora errado, tornou-se um costume generalizado e portanto, plenamente integralizado.
Alguns sacerdotes conceituados afirmam que o termo Orixá deveria ser utilizado exclusivamente em relação aos espíritos genitores que, efetivamente, participaram da criação do universo e que deram origem aos demais, de categoria hierárquica inferior, personificações de fenômenos e de elementos naturais como Terra, Fogo, Água, Ar, rios, lagoas, mares, pedras, montanhas, vegetais, minerais, etc...
Outros seriam ainda, figuras históricas tais como reis, guerreiros, fundadores de cidades, de dinastias, heróis e heroinas que, dado a importância de seus feitos, foram, depois de mortos, deificados e acrescentados ao panteão que, segundo Awolalu, está estimado em mais de 1700 entidades.

..INICIAÇÃO NO CANDOMBLÉ....


Iniciações



No Brasil e em vários lugares do mundo existem milhares e milhares de pessoas que, maravilhadas pelo mistério dos Òrìsà, quer sejam descendentes de africanos, europeus, asiáticos ou de qualquer outra raça do planeta, acabam transpondo as portas da iniciação, surpreendidos pelo paradoxo de defrontar-se com crenças alicerçadas em rituais de rebuscada complexidade e ao mesmo tempo simples de entendimento na sua essência. As cerimônias são alegres, coloridas, embaladas pelo som dos tambores nos quatro cantos do mundo, agregando pessoas de todas as camadas sociais; contudo, o aprendizado ritual e filosófico requer estudos sérios e contínuos, que acompanharão o iniciado pela vida afora. Que mistérios são esse, ocultos em meio a lendas e ensinamentos de sabedoria ancestral? O que na verdade leva pessoas às mais diferentes tradições afro-descendentes, em busca da iniciação?

1 - O que é Iniciação

Iniciar-se (popularmente no Brasil diz-se "fazer santo") é possibilitar através de rituais próprios que o lado divino da criatura transpareça; é libertar o Deus Interior( Ori Inu ) que existe em cada ser humano, permitindo-lhe vir a tona e provocar impulso irresistível capaz de conduzir a individualidade à realização pessoal, estabelecendo dessa maneira a mais perfeita comunhão possível com o Universo, com a Natureza, com o Criador, enfim, com a própria Vida, em seu pulsar infinito. Corpo físico, mente e alma são ritualisticamente preparados para componentes da manifestação divina. Condições propícias são estabelecidas para que a memória ancestral possa florescer nos recessos do inconsciente, produzindo muitas vezes o transe, em suas mais variadas formas e também variados graus. "Fazer santo" é nascer de novo, renascer como indivíduo mais forte, c ompleto, potencialmente seguro, com melhores condições para, ao abandonar medos, traumas ou bloqueios, lançar-se inteiro na busca da realização pessoal.

2 - Por que se iniciar? "fazer santo"?

Conhecer a si mesmo: pressuposto básico para a realização pessoal em todos os níveis. Desde sua origem o ser humano anseia pelo encontro com o Infinito. Essa busca incansável frequentemente provoca verdadeiras batalhas que são travadas no interior do indivíduo, acompanhadas por sentimentos de angústia, ansiedade, inconformismo ou até mesmo desespero frente ao desconhecido ou ao irremediável: as fatalidades e incertezas do amanhã, o ciclo da vida, a morte. Todo esse processo destina-se a criação de ambiente propício ao tão sonhado encontro. A história da humanidade espelha essa incansável busca de respostas aos enigmas da vida: Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? A felicidade é perseguida por todos, sendo muitas vezes um desejo alimentado pela incerteza: "Quero ser feliz, mas não sei bem o que é felicidade". E o ser humano continua a colocar a própria felicidade longe de si mesmo, em circunstâncias exteriores: dinheiro, posição, poder, fama, ou na dependência de outras pessoas: "Se ele - ou ela - me amar, serei feliz".

Há milhares de anos, o nativo do continente africano já tinha os mesmos anseios: conhecer seu Deus, os mistérios do Universo, a origem da Vida. Olodumárè (o Criador), em sua Graça e Poder infinitos, permitiu-lhes conhecer a  sabedoria do IFA (a revelação): a Criação do Universo e dos seres humanos, os princípios que regulam as relações entre Ilú Aiyé (a Terra) o Orún (mundo espiritual) e o conhecimento dos Òrìsa, divindades partícipes da Criação e intermediárias entre Deus (Olodumárè) e os homens. Desenvolveram-se rituais iniciáticos para os mistérios dos Òrìsà, como forma de realizar o sagrado em si mesmo, ou seja, permitir que o Deus Interior, na figura de um ancestral divino, desperte em cada indivíduo e estabeleça a ponte com o Cosmos, tão necessária à realização pessoal, tornando-o assim capaz de fazer escolhas mais acertadas e consequentes em relação à vida e aos semelhantes, na construção da própria felicidade. A compreensão clara de que destino é possibilidade e não fatalidade é a base dessa realização. O conhecimento das forças que regem o Universo e a Vida nas suas mais variadas formas e meios de manifestação, bem como dos princípios que regulam essa interação é o caminho da Iniciação.

3 - Iniciação : quem, quando e como?

O momento do chamado é diferente para cada pessoa.. Para alguns, uma doença difícil de ser curada: outros, as dificuldades do próprio caminho; outros ainda, buscam fugir às religiões tradicionais por concluírem que muitas delas estão tão voltadas para o dia a dia dos homens e seus interesses imediatos que acabam fugindo à sua real finalidade: promover o encontro do ser com a Divindade, ampará-lo em suas dificuldades espirituais e consequentemente,  também as materiais. Alguns ainda são provenientes de outras religiões ou filosofias espiritualistas; finalmente, existem aqueles que simplesmente são tocados pelo Òrìsà, nos recessos da própria alma. Muitos são descendentes de africanos, mas não é regra. Na África o culto está realmente ligado às famílias, mas no Brasil, principalmente a miscigenação, trouxe para toda a população a denominação afro-descendente. A iniciação (feitura) propriamente dita acontece num período de reclusão que varia de sete a dezessete dias. Esse período é comparável a gestação na barriga da mãe; nesse aspecto, o aposento sagrado representa o ventre da própria mãe natureza. O neófito aprende os mistérios básicos das divindades e da Criação; os costumes da comunidade e os princípios que regulam as relações da família religiosa (hierarquia sacerdotal); as formas adequadas de comportamento nas cerimônias públicas e restritas. Conhecimentos acerca de seu próprio Òrìsà lhe são ministrados: a maneira adequada de cultuá-lo, suas proibições (ewò) ( quando houver ), as virtudes que deverão ser cultivadas e os vícios que deverão ser evita-

dos para atrair influências benéficas e uma relação harmoniosa com a divindade pessoal.

4 - O que pode mudar na vida do Iniciado

O Destino é dado a cada ser na forma de possibilidade, nunca como fatalidade. Desse modo, quem antes de voltar ao mundo escolheu por exemplo ser médico, a o renascer na Terra encontrará em seu caminho situações que o direcionem para essa profissão. Entretanto, isto não quer dizer que necessariamente venha a exercer a medicina. Ele pode a qualquer tempo mudar os rumos da própria vida através do exercício do livre-arbítrio (o que, aliás, é um conceito universal). Cada qual constrói a própria história. Ocorre muitas vezes a pessoa acabar fazendo escolhas erradas e sofrendo consequências desastrosas. Pode ser fruto de um destino ruim, que exigirá tempo e determinação para ser superado. A dor transforma-se em companheira constante. Ligam-se a tudo isso os problemas do dia a dia (para não mencionar a situação difícil da sociedade contemporânea); o conjunto acaba provocando sentimentos de

impotência frente aos obstáculos e encruzilhadas da vida, ou simplesmente solidão, carência de aconchego, de orientação, de coragem. Carência de fé. O Òrìsà pessoal, nesse particular, pode influenciar e muito, prevenindo ou mesmo remediando tais situações, conferindo força e equilíbrio ao seu tutelado, restaurando-lhe as energias, estendendo-lhe proteção e orientando-o quanto ao melhor caminho a seguir. Mas o indivíduo deve permitir que o Òrìsà atue de modo construtivo na sua própria vida. Òrìsà não representa problema no caminho de ninguém - pode significar a solução. Através do seu apoio divino o ser humano pode criar condições para vencer as barreiras internas e externas para a construção de um futuro melhor.

Igbere - Iniciação

A presença do orisa na vida de uma pessoa depende do fortalecimento do ori para acoplamento do seu ase, através do ritual de iniciação. Após diversos tipos de ebo, banhos de folhas e bori, o iniciando está purificado e fortalecido para ter plantada no seu corpo a energia do seu orisa tutelar. Trata - se de ritual complexo e com características sob medida para a entidade única que é o iniciando em questão e o seu orisa. O ritual de i niciação nã o decorre de desejo próprio, mas depende de prescrição oracular econforme o próprio termo, marca, não a concretização, mas o início de um aprendizado e desafios constantes que requerem disciplina e dedicação espiritual pelo resto da vida.

Não implica em qualquer tipo de submissão contrariada, pois o ori é soberano no seu livre-arbítrio. No entanto, uma vez tendo vivenciado a sublime e divina presença do orisa, o afastamento deste, mesmo que voluntário, se faz sentir como um vazio sombrio que pode até ser confundido – errôneamente - com castigo. O orisa não necessita infringir castigos, primeiro porque, como energia da natureza, não depende da adesão de devotos - nós é que precisamos do orisa - segundo, porque a sua simples ausência em nossas vidas, já se caracteriza por si só, como desgraça.