segunda-feira, 27 de setembro de 2010

.. ...E O PANO DA COSTA????










O Pano da Costa

Presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afro-brasileiras, o pano-da-costa, não é apenas um complemento da indumentária da mulher; é a marca do sentido religioso nas ações da mulher como iniciada ou dirigente dos terreiros, aqui no Brasil, claro.
Observemos a profunda conotação sócioreligiosa desse simples pedaço de tecido, que atua em tão diversificadas situações, desempenhando papéis dos mais significativos e necessários para a sobrevivência dos rituais africanos. O pano-da-costa é assim chamado por ter sido um tipo de tecido vindo da costa dos escravos, Costa Mina, Costa do Ouro.  O tecido original foi substituído por outros tipos de tecidos, o que não diminui em nada as funções do pano-da-costa.
O pano-da-costa identifica a mulher feita, iniciada, aqui no Brasil, mesmo que ela não esteja de roupa de santo completa. Mas na realidade, esse pano, protege as costas das mulheres, e servem de “carrega bebê”. Nada mais que isso. Aqui no Brasil acabou virando indumentária religiosa. O que não é.
A situação do pano-da-costa é de maior importância, se colocarmos a presença da mulher como símbolo do poder sócioreligioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade, isso motivado pelas formas anatômicas características da mulher.


O sentido protetor do pano-da-costa é outro aspecto que merece atenção. As Yaos, ao terminar o período de feitura começam a travar seus primeiros contatos com o mundo exterior protegidas pelo pano-da-costa branco, que representa o prolongamento do Ala de Oxalá, envolvendo praticamente todo o seu corpo no grande pano-da-costa, procura manter os valores religiosos de sua feitura quando em contato com os valores profanos encontrados extramuros dos terreiros.


Nos sirruns/axexes, a mesma proteção do pano-da-costa, ateado como capa envolvente mágica, aparece guardando  as mulheres das presenças de egum.
O pano-da-costa é de uso exclusivo da mulher nos cultos africanos, porque uma das principais funções do mesmo é proteger os órgãos reprodutores das mulheres, das Yamis.
 
Nos rituais de sirrum/axexe as mulheres usam dois panos-da-costas branco: um protegendo seus ventres e outro sobre os ombros como uma capa que envolve todo o seu colo e seios.
O pano-da-costa deve ter no mínimo 60 cm de largura para que possa proteger os órgãos que necessitam de proteção. As famosas mães de santo não usam o pano-da-costa na cintura nunca.
No Rio de Janeiro e outros estados, onde a chamada evolução está destruindo e recriando situações a bel prazer, convencionou-se que o pano-da-costa deve ser usado de acordo com a idade de santo, isto é, só usa preso acima dos seios aquelas que ainda são yaos. Esta errado, pano-da-costa é para ser usado dessa forma mesmo independente da idade de feitura, quando muito, pode-se enrolar até abaixo dos seios.
De alguns anos para cá os homens aderiram o pano-da-costa, mas nenhum deles até agora explicou o porquê de usá-lo e nem podem explicar, pois o mesmo é de uso exclusivamente feminino.  E pior ainda, o usam na cintura. Para proteger o que?
Observem que as santas mulheres usam o pano-da-costa, os santos homens usam o pano-da-costa amarrados no ombro lembrando um Alaka (esse sim pertence ao homem) ou amarrado para trás, ou simplesmente ficam com o peito nu adornados pelas contas e brajas.


Em algumas casas encontramos abians usando pano da costa, esse procedimento esta errado. As abians ainda não tiveram seus pontos de energias abertos durante uma feitura, portanto as mesmas não necessitam dessa proteção ainda.


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