terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

UM PALAVRA SOBRE O CANDOMBLÉ E A INICIAÇÃO ,,,,,,







A iniciação no Candomblé é um processo extremamente complexo e lento, além de ser um assunto que tem muitas restrições para ser discutido publicamente. Assim como há muitas variações associadas à própria palavra que identifica a Religião do Òrìxa no Brasil – Candomblé, há também diversos tipos de iniciação. Estes tipos classificam-se, basicamente, em iniciação de oxú e de não oxu. Apenas para exemplificar, há dois conhecidos exemplos de iniciados que podem ser classificados como “não adoxu”: os ogans (homens) e as Ëkëdi (mulheres), também chamadas Ajòyè – como lembra Reginaldo Prandi – Prof. Titular de Sociologia na USP. Nestes dois casos, o(a) seguidor(a) é escolhido por um Òrìxà manifestado durante uma cerimônia de Candomblé e, após um dado período, é confirmado(a). Os iniciados “não adoxu”, ao contrário dos adxù, não podem iniciar outras pessoas e têm suas obrigações/tarefas muito bem delimitadas dentro do lado brasileiro da religião, que tem como filosofia o princípio de que não é possível dar a ninguém aquilo que não recebemos, ou seja, aquilo que não temos para dar.


O Prof. Prandi nos ajuda a esclarecer um pouco mais esta que iniciação e confirmação são conceitos totalmente distintos, uma vez que a confirmação tem o objetivo de transmitir um Oyè a um iniciado. Este assunto será discutido mais detalhadamente nos últimos parágrafos.


Sem o objetivo de negar a importância daqueles que não estão classificados como adïñù, vamos Outro fator que deve ser considerado é que, nos primórdios do Candomblé, um homem não tinha o direito de ser iniciado na condição de adïñù, somente como Îgán (nesta concepção, “não adoxu”). Esta regra até hoje é seguida naquela que é considerada a matriz das casas de Candomblé – a Casa Branca do Engenho Velho em Salvador. O tempo passou, a religião evoluiu e, por razões que fogem ao escopo deste artigo, os homens começaram a ser iniciados como adïñù e, para simplificar o texto, a partir deste ponto vamos deixar de usar o gênero das palavras, passando a utilizá-las apenas no masculino em português e/ou inglês e feminino nas poucas palavras Yorùbá que utilizaremos. Além disto, Alexandre Lima nos explicará o significado de algumas destas palavras ao final do texto. Até lá, vamos prosseguir com o assunto iniciação que, daqui em diante, fará referências somente às informações relevantes da iniciação dos adïñù.


Diversos são os caminhos (motivos) que levam uma pessoa a ser iniciada. É praticamente impossível relacionar todos caminhos, já que eles podem ser diretamente proporcionais ao número de pessoas iniciadas até hoje, mas há uma frase que a Ìyálórìxà Kasarandé não cansa de repetir e que muito bem reúne estes vários caminhos: “Ou você chega aos Òrìxà pelo amor, ou pela dor”. Em outras palavras, há pessoas que têm que ser iniciadas, outras o são simplesmente porque assim quiseram e os Òrìxà concordaram, ou seja, estas últimas poderiam esperar o tempo que os Òrìxà julgassem necessário para serem iniciadas – o que poderia significar uma vida inteira, mas preferiram fazê-lo simplesmente porque amavam a religião. E se há um componente que é desejável para um seguidor ser iniciado, este ingrediente é o amor, o qual teórica e automaticamente conduz à dedicação. 
 determinará através do jogo quando o processo terá início. Definida a data, que muito tem a ver com o Òrìxà do futuro iniciado, com as determinações do Òrìxà dono da casa e outras tantas implicações, o abíyàn apresenta-se, pela última vez nesta condição em toda sua existência, diante da Ìyálórìxà. A partir deste momento, ele deu início a um processo que durará SETE anos na esmagadora maioria das nações, familias e casas.


Ele vai ficar hospedado na casa de Candomblé por aproximadamente três semanas, tempo este dependente da casa, família e do próprio Òrìñà do iniciado. Inicialmente, por alguns dias (ou até horas) ele simplesmente descansará. Após este período, será dado inicio a um processo de limpeza física e espiritual, através de banhos rituais (àgbo) e sacrifícios (ëbö), que poderá demorar mais alguns dias. Feita a “limpeza”, ele será colocado no hunkö – quarto sagrado, de onde só sairá para as cerimônias em outros aposentos do ilé àñë ou locais externos sagrados (p.ex.: mar, cachoeira, mata, rio, etc.). A partir deste momento, abandona a condição de abíyàn e passa a ser classificado como ìyàwó – noviça, literalmente, “a mais nova esposa”.


Em seguida ele será submetido ao ritual do börí, o qual alimentará um dos mais importantes Òrìxà – Orí. Através da “alimentação” deste Òrìxà, o ritual tem o objetivo de pedir a sua autorização para “trabalhar” com a cabeça da ìyàwó, uma vez que não é possível realizar qualquer cerimônia pessoal relacionada aos Òrìxà sem antes pedir a permissão de Orí (veja mais informações sobre Orí na opção Òrìñà). Uma vez que Orí foi devidamente reverenciado, é hora de iniciar o tratamento do Òrìxà ancestral da ìyàwó. Segundo a tradição Kétu, até 10  podem ser iniciados em conjunto, o que nunca significa que o serão simultaneamente, pois a iniciação está intimamente vinculada ao Òrìxà de cada pessoa e somente a Ìyálórìxà poderá realizar a cerimônia principal. Com base nestes fatos, entendemos que somente um  poderá ser iniciado dentro de um mesmo espaço de tempo. Por outro lado, as cerimônias preliminares e posteriores à iniciação poderão ser feitas de forma simultânea e, por isto, o período é normalmente aproveitado para iniciar mais de uma pessoa. A este grupo de noviços damos o nome de barco, sendo que cada membro, por ordem sequencial (na maioria dos casos, de acordo com a ordem ritual dos Òrìxà ancestrais), recebe um dos seguintes nomes:


Dofono,dofonitinho, fomo, fomutinho, gamo, gamutinho,vimo, vimotinho etc...


A iniciação é algo muito particular de cada Òrìxà, por isto cada ìyàwó tem seus próprios rituais de iniciação. Porém, o básico é feito em todos. Este “básico” consiste na raspagem da cabeça e na abertura de incisões (através de métodos compatíveis com cada Òrìxà) em diversas partes do corpo da ìyàwó. Estas incisões (gbýrý) têm o principal objetivo de inserir o àñë – um preparado que determinará a ancestralidade da ìyàwó. Entre estas incisões está a principal de todas – o Oñù, que é feita ao alto da cabeça e que o iniciado portará enquanto estiver no àiyé (espaço ocupado fisicamente pelos seres viventes). Na tentativa de tornar um pouco mais clara a importância do Ojù, citamos Dra. Juana Elbein dos Santos e seu livro Os Nàgó e a Morte (ISBN 85-326-0923-6), onde diz: “… a Ìyálàlàñë transfere e planta o àxé na noviça por intermédio de um ciclo ritual que culmina quando, no centro da cabeça da ìyàwó, ela coloca e consagra o Ojù…”. Mais adiante ela escreve “Falecida a olórìñà, qualquer que seja sua hierarquia, deverá proceder-se a retirar seu Ojù por meio do qual, precisamente, a individualização, o nascimento da adójù foram possíveis. Um sacerdote altamente preparado manipulará sua cabeça de maneira que retire os cabelos do lugar onde o Ojù foi plantado…”.Durante esta importante fase da iniciação, tudo sempre é feito sob a tênue luz de vela (quando o Òrìxà da ìyàwó não exige outro tipo primitivo de iluminação), ao som de cantigas específicas para o momento e diante de olhares das poucas pessoas autorizadas pelo Òrìxà, seja ele da ìyàwó, da casa, da Ìyálórìñà e até mesmo do próprio participante, Feito isto, será dado início aos sacrifícios animais necessários para o Òrìxà da ìyàwó. Ao contrário do que a grande maioria pensa, segundo a tradição Kétu, animais não são sacrificados sobre a ìyàwó, pois acredita-se que o calor do sofrimento causado pela morte do animal não deve nunca atingir o abòrìxà. Há métodos específicos e pessoas especialmente determinadas para que não seja estabelecido um elo entre o sofrimento físico do animal sacrificado e a pessoa diretamente envolvida no ritual, exceto no que diz respeito a alguns poucos animais. Um a um, as ìyàwó são submetidas ao processo de iniciação, que pode durar horas que parecem nunca acabar, dependendo do tamanho do barco – grupo de iniciados. Apesar de já serem chamados de ìyàwó, eles ainda terão uma dura fase pela frente. Com o mais básico comportamento sempre atrelado aos seus Òriñà ancestrais, eles ainda terão muitos dias de convivência com a ajíbïna que, além de ensiná-los como se comportarem diante de seus mais velhos, continuará ensinando as rezas, as danças, etc. Eles ainda serão apresentados por sete vezes àqueles da sua família que estiverem interessados em conhecê-los. Dependendo do Òrìñà, durante estas apresentações serão pintados com wàji (azul), òsún (vermelho) e ëfun (branco) demonstrando sua ascendência (Îyï) e também para que as àjý (entidades feiticeiras) não se aproveitem deles, não os persiga.


Finalizados os procedimentos internos de iniciação, é chegada a hora da cerimônia pública. Aliás, todos grandes rituais do Candomblé culminam em cerimônias públicas, que assumem o papel de confirmadoras do ocorrido, de preferência com a participação de pessoas de outras casas e até mesmo outras famílias. A presença de pessoas pertencentes a outras nações em uma saída de ìyàwó é considerada uma grande honra e, normalmente, terão peso imensurável na escolha da Ìyálórìñà para aquele que tirará o nome da ìyàwó


Dependendo da casa, a cerimônia pública será precedida por novos rituais que incluem novos sacrifícios. Há até mesmo casas/famílias que realizam o ritual/sacrifício finais poucos minutos antes da primeira apresentação pública. Mas, hoje em dia, devido à grande especulação, ou os ìyàwó saem cobertos por um tecido branco nesta primeira apresentação, ou já o fizeram na madrugada anterior. Queremos dizer que o ápice da iniciação – que consiste na apresentação do Ojù (objeto ritualístico altamente sagrado) em público, é atingido de uma forma mais discreta do que o era antigamente. Na atualidade, é mais difícil ver um Ojù em cerimônias públicas.


De qualquer maneira, o final desta fase inicial será uma cerimônia pública onde os ìyàwó mostrarão por três vezes que nasceram para uma nova vida, será o Öjï Orúkö Ìyàwó.


Na primeira vez, eles serão apresentados vestidos de branco, pintados de branco (ëfun) com o ìkódídë (pena ritualística, um dos símbolos da iniciação) amarrado na cabeça por palha da costa. Na frente deles estará a ajíbïna estendendo a ëní – esteira, para que eles “batam paó” para os locais sagrados da casa e apresentem o dïbálû (Òrìñà masculinos) e o yìnká (Òrìñà femininos) para a Ìyálórìñà.


Na segunda vez, as as roupas serão coloridas, assim como as pinturas que abusarão do vermelho (òsún) e azul (wáji), dependendo do Òrìñà, mostrando a sua ancestradidade através de traços bem definidos. Na verdade, desta vez, a apresentação é bem mais rápida.


Na terceira vez, as roupas já serão as características de cada Òrìxà, ou seja, eles estarão vestidos em belas roupas que revelam os atributos, lembram a história, de seus Òrìxà.


Na segunda saída, dependendo da casa, após os cumprimentos rituais, os ìyàwó serão expostos ao público na ordem hierárquica do barco e a Ìyálórìxà oferecerá cada um deles para que alguém de outra nação, casa, família (normalmente nesta ordem), peça para que o Òrìxà revele publicamente o nome Yorùbá que o iniciado recebeu. Na terceira saída, os Òrìñà estarão preparados para comemorar os novos nascimentos, pois este é o objetivo da iniciação – nascer para dentro da religião, através das danças rituais. Dependendo do número de ìyàwó, os Òrìñà podem dançar até os raios do sol invadirem o barracão.


Muito bonito sem dúvida, mas engana-se quem pensa que a iniciação acabou. Esquecemo-nos de mencionar que o Kele – o colar sagrado, foi colocado no pescoço da ìyàwó durante o processo de iniciação. É importante notar que o termo “colar” é utilizado apenas para facilitar o entendimento, pois, apesar de ser colocado no pescoço, o Kele não pode ser removido, exceto através de ritual específico. Dependendo da casa, da família, o Kele deverá ser carregado por 12 semanas, lembrando que a ìyàwó deverá respeitá-lo evitando todos prazeres mundanos, tais como sexo, álcool, tabaco, etc., além de uma série de proibições – èwî, inerentes a esta fase primária da iniciação. Hoje em dia, na tentativa de tornar o Kele objeto de respeito máximo, muitas Ìyálórìñà não deixam seus ìyàwó entrarem para a vida social portando o colar sagrado – preferem tirá-lo do pescoço dos seus filhos antes que estes partam para a vida moderna que os aguarda lá fora. Mas isto não significa que eles estarão livres dos èwî ! Talvez eles sejam liberados para comer com talheres em um almoço de negócios, mas isto poderá ser o máximo permitdo, pois dormir no chão sobre a ëní e as rezas antes das refeições que não sejam exigidas pela vida profissional continuarão sendo algumas poucas das suas muitas obrigações para com os Òrìñà. Alguns èwî, dependendo do Òrìñà, da casa, da família, etc., não estarão limitados não estarão limitados somente ao período do Kele, ou seja, deverão ser respeitados por toda vida do iniciado.


Como ensinado pela ajíbïna, enquanto eles forem ìyàwó, eles jamais poderão sentar no mesmo nível que os irmãos mais velhos, nem olhar diretamente em seus olhos. É a hierarquia intrínseca ao Candomblé (ou seria à cultura Yorúbà ?) se mostrando: um irmão mais novo não deve nunca ficar acima (fisicamente) de um irmão mais velho. Ao contrário das demais culturas, o “olhos nos olhos” só funciona para pessoas do mesmo nível hierárquico, os que estão abaixo devem sempre olhar para o chão. Esta educação inicial mostrará quem é a pessoa para o resto de sua vida dentro da religião. Passado o período do Kele, o iyàwó, teoricamente, entra em seu ritmo social normal até o primeiro ano, quando então cumprirá com novas obrigações chamadas de ödún kíni. Depois precisará cumprir com suas obrigações aos três anos (ödún kýtà). Há casas onde também são cumpridas obrigações no quinto ano. Finalmente, vem as obrigações que são a confirmação final da iniciação e que são feitas aos sete anos (ödún kéje), quando então a ìyàwó se tornará um Ûgbïn (mais velho) através de uma cerimônia pública, onde poderá receber o conjunto de simbolos da maioridade, comumente chamado de Deká. A partir daí, o egbomen, ou Ûgbïnmi, como é normalmente chamado, estará apto a abrir sua própria casa, caso este seja seu caminho (definido no momento da sua concepção e revelado pelo jogo de búzios), dando origem à sua própria família com base nos ensinamentos que adquiriu durante os sete anos de iniciação, de aprendizado inicial. Durante o referido período, é esperado que ele tenha sido submetido a, e estado presente em, rituais suficientes para que esteja habilitado a, pelo menos, interpretar corretamente as caídas dos búzios, pois muito do que praticará de agora em diante, aprenderá à medida que os Òrìxà digam que ele precisa iniciar os abòrìñà que cruzarem seu caminho.


Aqueles que não têm o “caminho” para assumirem a função de Ìyálórìñà, de abrirem suas próprias casas, continuarão atuando dentro daquela onde foram iniciados, podendo receber nesta cargos e/ou títulos (Oyè) que determinarão os seus papéis junto à sua família (Ìdílé Òrìñà). Nesta condição, além das classificações já expostas, estes abòrìñà passarão também a ser classificados como Oloyè.


Conforme define o Prof. Prandi, “receber um Oyè geralmente implica sentar na cadeira (cadeira, trono, representava na África que o indivíduo tinha alta posição social, assim como usar o eru-espanta mosca, o guarda-sol e outros símbolos de prestígio e poder). A confirmação é o ato em que o pai-de-santo ou Òrìñà senta o Oloyè na cadeira, para indicar que ele agora tem status alto, posição elevada, etc. naquele Ëgbý (comunidade)”. Ele adiciona ainda que, ao abrir sua própria casa, a Ìyálórìñà não perde o vínculo com a casa onde foi iniciada, podendo, inclusive, manter um Oyè recebido previamente naquela casa, ou até ser confirmada para um Oyè naquela ou em outra casa após ter constituído sua própria família. O candomblé é uma religião iniciática. No entanto nem todos nasceram para serem sacerdotes, gostaria de salientar que essa iniciação só deve ser feita em última instância, em caso de extrema necessidade, quando não houver outra alternativa.


A iniciação no candomblé não é uma coisa que se faça levianamente sem observar as conseqüências provenientes de erros, caso o pai ou mãe de santo não estejam devidamente preparados para isto. Por que iniciar uma pessoa que não precisa ser iniciada? Só pelo dinheiro? Há muitos “sacerdotes” fazendo isso sem nenhum escrúpulo. São os mercenários de nossa religião que não tem o menor respeito pelo Orixá e muito menos pelas pessoas desavisadas que caem em suas mãos.


Sempre que for fazer uma consulta em qualquer casa de candomblé, fique atento, não dê dinheiro algum sem antes confirmar em outros lugares se é isso mesmo que estão dizendo. Se disserem que tem que fazer um ebó, borí, ou iniciação, vá jogar em outros lugares para confirmar a resposta do jogo, se for igual em pelo menos três lugares diferentes então faça. Caso contrário não faça nada, não gaste seu dinheiro sem saber realmente o que é preciso ser feito.


Muitos pensam que é só fazer o santo e já pode ser pai ou mãe de santo, a coisa não é bem assim… Não é porque alguém se iniciou, que obrigatoriamente terá que abrir uma casa ao completar sua iniciação na obrigação de sete anos.Não são todos filhos de santo que tem cargo para ser um sacerdote. O sacerdote já nasce com essa missão e em proporção seria 1 em cada 1000 que deveria se preparar para essa árdua tarefa.


O que está acontecendo no candomblé é uma distorção grave, quando se pensa que todo iaô tem que abrir casa. Um absurdo! Muitos não têm nem fibra e nem capacidade para ser um líder, abrem suas casas e depois de um tempo despacham tudo no rio e vão para as igrejas


Os culpados dessa decadência da religião são os pais e mães de santo que inventaram essa nova modalidade de ganhar dinheiro, pois cada iaô que o sacerdote despreparado for tirar terá que chamar um pai ou uma mãe para raspar porque ele não sabe. Pois não conviveu o tempo suficiente na roça para aprender o mínimo necessário e já abriu uma casa. Não podemos esquecer que existem muitos sacerdotes dignos, que levam o culto a sério e se preparam durante muito tempo antes de assumir uma casa e todas as conseqüências que a mesma trás, mostrando um culto limpo, cheio de magia e lendas riquíssimas. Trazendo a evolução do homem e mostrando que cada um tem o seu caminho evolutivo.


O candomblé não se resume às festas de barracãoa festa é só a ponta do iceberg, não é só chegar na hora da festa para dançar, candomblé não é só isso.O candomblé propriamente dito começa uma semana antes de cada festa, com muitas pessoas na casa lavando, passando, cozinhando, limpando e enfeitando, quando você entra no barracão e vê as bandeirinhas no teto da cor do Orixá que está sendo homenageado, alguém teve que comprar cortar e colar as bandeirinhas e colocá-las no lugar para que o barracão fique bonito.


As anáguas, toalhas brancas, ojás precisam ser engomadas e passadas, (detalhe na maioria das roças é no tanque por não ter máquina de lavar e quanto tem não é usada porque gasta muita luz) isso normalmente é feito pelas ekedis ou pessoas que moram na casa de candomblé, mas e as suas anáguas quem vai engomar? Quem vai passar? É durante o período de abian que muita gente vai aprender a lavar suas roupas, engomar e passar para poder usar na festa. Caso não saiba lavar roupa ou nunca lavou terá que aprender ou pagar para que alguém faça. Na maioria das vezes é do que vivem as pessoas que moram dentro de uma casa de candomblé, lavam e passam as roupas dos que não sabem ou não tem tempo para fazer.


Durante a semana diversas obrigações são feitas, de acordo com a determinação do jogo de búzios, Exús, Eguns e os Orixás homenageados. Os bichos precisam ser limpos por alguém e tratados pois será servido uma parte para os Orixás e outra parte para todos os presentes na festa.


Você já limpou uma galinha, um pato, um pombo ou um cabrito?


Ahhh! tem dó?!!!, Tem nojo? ah bom!!! Então pode ir pensando no assunto, na hora de tirar as penas todo mundo tem que ajudar não importa cargo, é uma das coisas que os abians e iaôs podem fazer. Alguém precisa limpar a casa e deixar impecável para a festa e os convidados. Isso os abians e iaôs também podem fazer sem problemas.Se você nunca varreu sua casa, vai aprender a varrer barracão e quintal que normalmente são enormes.A comida precisa ser preparada e estar pronta antes de começar a festa para que aqueles que estavam no fogão possam tomar banho e se arrumar.


Quando chegar num candomblé e notar algumas pessoas com cara de cansadas e cochilando em alguma cadeira, não repare, com certeza essa pessoa deve estar com todos os ossos do corpo doendo de uma semana de trabalho duro para que você possa ver uma festa bonita.


Se você é leigo no assunto, procure conhecer um pouco mais antes de fazer qualquer coisa.Não deve se iniciar só porque acha bonito, porque gosta das roupas, porque gosta do ritmo envolvente sem pensar nas responsabilidades e conseqüências da iniciação. Não se inicia para depois de um ano chegar à conclusão que não era bem isso que queria.


Quando se iniciar no candomblé estará criando um vínculo com o seu Orixá, com a casa, com o pai ou mãe de santo, você passa a fazer parte de uma comunidade, por isso deve escolher bem a casa. Antes de qualquer coisa é necessário consultar vários jogos de búzios para saber se todas as respostas de jogo são iguais, não se deve confiar cegamente em ninguém.


Somente depois disso dá para saber se precisa realmente ser iniciado ou não, desta forma pode-se escolher a casa e o pai ou mãe de santo que mais lhe inspire confiança, procurar saber quem são seus ancestrais, em que casa ele foi feito, tudo isso para não ter surpresas e aborrecimentos no futuro. Estou dizendo isto porque existem muitas pessoas com casa aberta e nem são iniciados no candomblé e dizem que são. Uma pessoa que não foi iniciada, não pode iniciar outras pessoas, porque não recebeu o Axé de ninguém. E pelo que me consta ninguém pode dar aquilo que não tem.


Mesmo que lhe digam que precisa ser iniciado (fazer o santo), tenha calma e não vá fazendo no primeiro lugar que lhe disseram, procure outros lugares, se informe, o santo não vai te matar se você não fizer imediatamente, se ele é seu Orixá ele quer o melhor para você.Por isso mesmo existem os abians nas casas de candomblé, são pessoas que participam das festas e algumas obrigações na casa sem a responsabilidade de ser um iniciado.


Para fazer parte do candomblé não pode ser preguiçoso, se está pensando que vai chegar numa roça de candomblé e ficar encostado olhando os outros trabalharem, esqueça, todos trabalham por igual em pról da comunidade, se é uma casa prá todos os filhos, todos os filhos tem que ajudar. E não é ao pai ou mãe de santo que estão ajudando Quando limpar a roça pense que alguém está fazendo a comida que você vai comer e o que você está fazendo se reverterá em benefício de todos e para que todos tenham um lugar agradável e limpo para ficar.


Durante o período de abian é que você aprende a dançar no barracão, aprende as cantigas, convive com todos da roça e tem a possibilidade de conhecer um por um, nesse período é que você vai descobrir se está no lugar certo, caso não seja poderá ir para outra casa pois ainda não tem vínculo nenhum com o pai ou mãe de santo e nem com a casa.


O Axé é transmitido do pai ou mãe de santo para o iniciado de diversas formas, uma delas é na iniciação através do Adoshu que é colocado na parte superior da cabeça, onde penetrará o Axé ali depositado. O Axé vai sendo transmitido aos poucos, através das rezas, cantigas, banhos, boris, na feitura, na obrigação de 1 ano, 3 anos, (em algumas nações tem a de 5 anos), 7 anos, 14 anos, 21 anos de santo, daí em diante enquanto o pai ou mãe for vivo.


O certo é permanecer na casa onde se foi iniciado, mas em decorrência de muitos desentendimentos entre pais e filhos de santo tem havido uma constante mudança de casa.


Para os que não sabem…você nunca vai ser tratado em outras casas como na casa onde você foi iniciado, existe uma diferença, ou seja (você não é do meu Axé), pode ser muito bem camuflado mas que esse sentimento existe, existe….


Na primeira discussão você pode ouvir isso, não digo do pai de santo, mas dos outros filhos da casa com certeza.








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