As drogas invadem os Axés! (BA)Traficantes invadem Opó Afonjá em Salvador...
O mais recente exemplo de desinteresse político e ausência de Políticas Públicas que combatam o tráfico de drogar e que resgatam cidadãos da dependência química, é o que está acontecendo e que pode ser entendido como um afronto à todos os tipos de crença. Os espaços sagrados dos Terreiros de Candomblé não estão mais imunes à violência. A força dos Orixás não conseguiu impedir que, na área de Mata Atlântica dentro do Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, de Mãe Stella de Oxóssi, no São Gonçalo do Retiro, criminosos montassem uma cabana para servir de quartel para venda e distribuição de drogas na Baixinha de Santo Antônio. O espaço físico da cabana em meio a árvores e plantas sagradas, montado com mesa de tampo de vidro, cadeiras, balança de precisão e sofás, foi destruído pela polícia há quatro meses, contudo, o ambiente ainda continua sendo usado pelos traficantes. Os usuários de crack, maconha e cocaína ameaçam os templos e moradias dos Filhos-de-Santo. São constantes os arrombamentos aos cerca de 130 imóveis existentes na área de 39 mil metros quadrados do Terreiro, que foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Recentemente, foram invadidas as casas dedicadas à Iemanjá, Oxalá e Oxum. Nos imóveis erguidos para Iansã, Ogum e Omolu, foram arrancadas as inscrições com os nomes dos Orixás, feitas de bronze. Já na última quarta-feira de dezembro, foi levado o cofre com oferendas depositadas por fiéis para Xangô. No mesmo dia, os ladrões invadiram a casa de Oxalá, de onde levaram um botijão de gás, depois de entrar pela janela e arrombar 28 portas dos Filhos-de-Santo. De acordo com o presidente do Conselho Civil da Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, Ribamar Daniel, os ladrões costumam entrar na casa quando ela está vazia, levam dinheiro, bagunçam tudo. Ele contou ainda que o Conselho do Terreiro decidiu encaminhar ofícios aos Ministérios Públicos Federal, Estadual e IPHAN, solicitando apoio e proteção ao Terreiro. Além dos roubos, os usuários de drogas fazem das varandas dos imóveis dedicados aos Orixás, “rodas” para fumar maconha e fazer sexo.
A líder religiosa do Terreiro, Mãe Stella, não acredita que as ações violentas contra o Ilê Axé Opô Afonjá estejam relacionadas com intolerância religiosa. “Isso é coisa de jovens levados pelo tráfico de drogas. Eles têm falta de amor próprio, só assim podem ter coragem de profanar um local sagrado. Não se consideram como gente”, reclamou. A área do Terreiro, segundo a polícia, está encravada em um bolsão de tráfico de drogas. “Isso facilita que os bandidos invadam o terreno. Nos últimos meses, a direção do Terreiro, em parceria com a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER), resolveu construir um muro de concreto para separar o Terreiro da invasão. Traficantes, porém, já mandaram avisar que vão derrubar o muro. “...Nosso espaço precisa ficar separado”, disse Mãe Stella, que este ano comanda a festa em comemoração ao centenário do Terreiro. ”Ficarmos cercados é um retrocesso da nossa religião, que tanto lutou pela liberdade de culto. No passado, convivemos muito com a intolerância, até da própria polícia. Mas nesse momento, o muro é a melhor opção”, completou. Os fundos das Casas de Santo, a área de matagal, são o esconderijo predileto dos assaltantes, usuários e traficantes de drogas. Para todo o terreno, entre mata e residências, há apenas um segurança, desarmado, que, além de percorrer o terreno, ainda tem que fazer, às vezes, de porteiro. Por ser uma área privada, a responsabilidade de manter a segurança é do Terreiro. Contudo, como há vigilância particular, os funcionários serão ouvidos para prestar esclarecimentos sobre os furtos. “O valor de manutenção da guarita com o segurança é pago, desde 2008, por um freqüentador do Terreiro. Isso foi preciso depois que roubaram 200 cadeiras do barracão”, explica Ribamar. Além disso, a PM faz rondas na área do Terreiro, quando chamada. Bombas, marretas e metralhadoras foram usadas para colocar no chão um Terreiro de Candomblé na invasão Babilônia, no bairro de Tancredo Neves. A demolição, promovida por traficantes da região no último dia 20 de dezembro, quatro dias após o Pai-de-Santo José dos Santos Bispo (Pai Santinho), ser assassinado a tiros em sua casa, que ficava no mesmo prédio do Terreiro. No dia da derrubada do imóvel, os foguetes anunciaram a festa em frente aos restos do Templo. Os Filhos-de-Santo foram expulsos do local pelos traficantes. “Ogãs receberam ordem para sair e não pisar mais na Babilônia. Tudo foi destruído. Até uma bomba jogaram na casa de Exu. Foi o maior desrespeito a nossa religião. Os traficantes botam todo mundo para correr de lá”, disse uma testemunha. Pai Santinho, que chegou a morar na Itália e era travesti, foi encontrado com marcas de tiros no banheiro de sua casa. O religioso foi morto no ano passado, em 16 de dezembro, após ter denunciado que um de seus Filhos-de Santo havia sido assassinado.
Os assaltos ao Terreiro de Mãe Stella, e a demolição do de Pai Santinho, segundo a Polícia, não são as principais ocorrências da área. “São 27 homicídios por mês na região. As ruas são estreitas e o tráfico de drogas é muito pulverizado”. Para o pesquisador, historiador e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Jaime Sodré, a agressão ao terreiro de Mãe Stella é um ato de barbárie. “Foi um gesto absurdo de primatização, de retorno ao primitivo. Cabe à polícia dar uma resposta aos Orixás”. Líderes do Candomblé ficaram indignados com os ataques. A Iyalorixá do Terreiro Gantois, no bairro da Federação, Mãe Carmem de Oxalá desabafa: “É uma falta de respeito pela fé, pelo ser humano e ao Patrimônio da Humanidade”. A revolta é compartilhada também por Mãe Índia, do Terreiro de Bogum, no Engenho Velho da Federação. “Nunca tivemos problemas com eles (bandidos), mas não estamos livres de um ataque. Sinto por Mãe Stella, Iyalorixá respeitadíssima no Brasil”, disse. A Federação Nacional do Culto Afro-brasileiro (FENACAB) encaminhou ao governador Jaques Wagner um documento solicitando providências em relação aos ataques e à violação do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. Criado em 2005, o Núcleo de Religiões de Matriz Africana da PM da Bahia (NAFRO-BA) orienta Pais e Mães-de-Santo sobre como agir em casos de invasão dos espaços sagrados. Também faz a aproximação entre os comandantes da PM e os Terreiros.
Fonte: FOESP
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