As Donas da Noite
“Quando se pronuncia o nome de Iyá-Mi Osorongá, quem estiver sentado deve-se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois se trata de temível Orixá, a quem se deve apreço e acatamento”.
(Jorge Amado)Iyá-Mi Osorongá é a síntese do poder feminino, claramente manifestado na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o mundo. Quando os Iorubas dizem “nossas mães queridas” para se referirem às Iyá Mi, tentam, na verdade, apaziguar os poderes terríveis dessa entidade.
Donas de um axé tão poderoso como o de qualquer Orixá, as Iyá-Mi tiveram o seu culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, realizado entre os meses de Março e Maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo imediatamente para um culto relacionado à fertilidade.
As iyá-Mi tornaram-se conhecidas como as senhoras dos pássaros e a sua fama de grandes feiticeiras associou-as à escuridão da noite; por isso também são chamadas Eleyé, e as corujas são os seus principais símbolos. A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos acontecimentos que fogem à explicação e ao controle humano. Toda a mulher é poderosa porque guarda um pouco da essência das Iyá-Mi; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais femininos, assustou sempre os homens.
As mães são compreendidas como a origem da humanidade e o seu grande poder reside na decisão que tomar sobre a vida de seus filhos. É a mãe que decide se o filho deve ou não nascer e, quando ele nascer, ainda decide se ele deve viver. Iyá-Mi é a sacralização da figura materna, por isso o seu culto é envolvido por tantos tabus. O seu grande poder deve-se ao fato de guardar o segredo da criação. Tudo o que é redondo remete ao ventre e, por consequência, às Iyá-Mi. O poder das grandes mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá-Mi é manifesto em toda a mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas, é considerada tabu.
As denominações de Iyá-Mi expressam as suas características terríveis e mais perigosas e por essa razão os seus nomes nunca devem ser pronunciados; mas quando se disser um dos seus nomes, todos devem fazer reverencias especiais para aplacar a ira das Grandes Mães e, principalmente, para afugentar a morte.As feiticeiras mais temidas entre os Iorubas e no Candomblé são as Àjé e, para se referir a elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleyé, Dona do Pássaro.
O aspecto mais aterrador das Iyá-Mi e o seu principal nome, com o qual se tornou conhecida nos terreiros, é Osorongá, uma bruxa terrível que se transforma no pássaro do mesmo nome e rompe a escuridão da noite com o seu grito assustador. As Iyá-Mi são as senhoras da vida, mas o corolário fundamental da vida é a morte. Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas no seu aspecto benfazejo, são o grande ventre que povoa o mundo. Não podem, porém, ser esquecidas; nesse caso lançam todo o tipo de maldição e tornam-se senhoras da morte.
O lado bom de Iyá-Mi é expresso em divindades de grande fundamento, como Apaoká, a dona da jaqueira, a verdadeira mãe de Oxóssi. As Iyá-Mi, juntamente com Exú e os ancestrais, são evocadas nos ritos de Ipadé, um complexo ritual que, entre outras coisas, ratifica a grande realidade do poder feminino na hierarquia do Candomblé, denotando que as grandes mães é que detém os segredos do culto, pois um dia, quando deixarem a vida, integrarão o corpo das Iyá-Mi, que são, na verdade, as mulheres ancestrais.
AS SENHORAS DO PÁSSARO DA NOITE
Iyami Oshorongá é o termo que designa as terríveis Ojés, feiticeiras africanas, uma vez que ninguém as conhece por seus nomes. As Iyami representam o aspecto sombrio das coisas: a inveja, o ciúme, o poder pelo poder, a ambição, a fome, o caos o descontrole. No entanto, elas são capazes de realizar grandes feitos quando devidamente agradadas. Pode-se usar os ciúmes e a ambição das Iyami em favor próprio, embora não seja recomendável lidar com elas. O poder de Iyami é atribuído às mulheres velhas, mas pensa-se que, em certos casos, ele pode pertencer igualmente a moças muito jovens, que o recebem como herança de sua mãe ou uma de suas avós.
Uma mulher de qualquer idade poderia também adquiri-lo, voluntariamente ou sem que o saiba, depois de um trabalho feito por alguma Iyami empenhada em fazer proselitismo.
Existem também feiticeiros entre os homens, os oxô, porém seriam infinitamente menos virulentos e cruéis que as ajé (feiticeiras).
Ao que se diz, ambos são capazes de matar, mas os primeiros jamais atacam membros de sua família, enquanto as segundas não hesitam em matar seus próprios filhos. As Iyami são tenazes, vingativas e atacam em segredo. Dizer seu nome em voz alta é perigoso, pois elas ouvem e se aproximam pra ver quem fala delas, trazendo sua influência. Iyami é freqüentemente denominada eleyé, dona do pássaro. O pássaro é o poder da feiticeira; é recebendo-o que ela se torna ajé. É ao mesmo tempo o espírito e o pássaro que vão fazer os trabalhos maléficos.
Durante as expedições do pássaro, o corpo da feiticeira permanece em casa, inerte na cama até o momento do retorno da ave. Para combater uma ajé, bastaria, ao que se diz, esfregar pimenta vermelha no corpo deitado e indefeso. Quando o espírito voltasse não poderia mais ocupar o corpo maculado por seu interdito.
Iyami possui uma cabaça e um pássaro. A coruja é um de seus pássaros. É este pássaro quem leva os feitiços até seus destinos. Ele é pássaro bonito e elegante, pousa suavemente nos tetos das casas, e é silencioso.“Se ela diz que é pra matar, eles matam, se ela diz pra levar os intestinos de alguém, levarão”. Ela envia pesadelos, fraqueza nos corpos, doenças, dor de barriga, levam embora os olhos e os pulmões das pessoas, dá dores de cabeça e febre, não deixa que as mulheres engravidem e não deixa as grávidas darem à luz.
As Iyami costumam se reunir e beber juntas o sangue de suas vítimas. Toda Iyami deve levar uma vítima ou o sangue de uma pessoa à reunião das feiticeiras. Mas elas têm seus protegidos, e uma Iyami não pode atacar os protegidos de outra Iyami.
Iyami Oshorongá está sempre encolerizada e sempre pronta a desencadear sua ira contra os seres humanos. Está sempre irritada, seja ou não maltratada, esteja em companhia numerosa ou solitária, quer se fale bem ou mal dela, ou até mesmo que não se fale, deixando-a assim num esquecimento desprovido de glória. Tudo é pretexto para que Iyami se sinta ofendida.
Iyami é muito astuciosa; para justificar sua cólera, ela institui proibições. Não as dá a conhecer voluntariamente, pois assim poderá alegar que os homens as transgridem e poderá punir com rigor, mesmo que as proibições não sejam violadas. Iyami fica ofendida se alguém leva uma vida muito virtuosa, se alguém é muito feliz nos negócios e junta uma fortuna honesta, se uma pessoa é por demais bela ou agradável, se goza de muito boa saúde, se tem muitos filhos, e se essa pessoa não pensa em acalmar os sentimentos de ciúme dela com oferendas em segredo. É preciso muito cuidado com elas.
E só Orunmilá consegue acalmá-la.
CULTO GELEDE
Segundo os mitos da tradição afro-descendente, já que o mito é o discurso em que se fundamentam todas as justificativas da ordem e da contra-ordem social negra, a luta pela supremacia entre os sexos é constante, simbolizada na ìgbá-dù (cabaça da criação), já que o òrì sà Yemoja Odùa, princípio feminino de onde tudo se cria – representação coletiva das Ìyámí ou mães ancestrais, é a metade inferior da cabaça e Obatálá ou Òòsààlà, princípio masculino, a metade superior. A relação Odùa/Obatalá, entendida simbolicamente, não representa uma simples relação de acasalamento do princípio feminino com o masculino.
Há um princípio de completude do outro, de que a vida se constrói de mãos dadas e de que cada um de nós à medida em que estabelece esta relação, estabelece um elo mais completo com as coisas que estão à volta. Significa todo um processo de equilíbrio e de harmonia. Para se entender bem tal relação, se faz necessário situar as mulheres do ritual G È L È D È, que representam o culto às ÌYÁMÌ, as grandes mães ancestrais, encabeçadas por: Nàná, Yemoja Odùa, Òs un Ijimu, Òs un Ìyánlá, Yewa e Oya. ODÙA simboliza a grande representante do princípio feminino, sendo o elemento responsável por todo o poder criador, do poder das mulheres, liderando o movimento das ÌYÁMÌ, grandes mães ancestrais, que tudo criaram, transformaram e transmutaram desde o princípio dos princípios da formação do universo.
A sociedade GÈLÈDÈS, que já existiu no Brasil, é um ritual de mulheres que vestem panos coloridos – diferentes panos mostrando diferentes procedências. São as diferentes raízes que as pessoas podem ter na maternidade. A máscara ÈFÉ -GÈLÈDÈ que cobre a cabeça da mulher vai representar o mistério, o maravilhoso, na cultura negra. O uso da máscara significa o símbolo de outro espaço, um espaço vivo, um espaço invisível que não se conhece, mas sente-se!
No Brasil esta sociedade existiu, sua ultima sacerdotisa suprema foi O mó ník é Ìyálóde-Erelú que tinha o nome católico Maria Julia Figueiredo, uma das Ìyálà se do Ilè Ìyá-Nàsó, com sua morte cessaram-se as festividades, que eram realizadas no bairro da Boa Viagem. O propósito da sociedade GÈLÈDÈ é propiciar os poderes míticos das mulheres, cuja a boa vontade deve ser cultivada porque é essencial a continuidade da vida para esta sociedade.
Sem o poder feminino, sem o princípio de criação não brotam plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade não tem continuidade. Assim, o princípio feminino é o princípio da criação e preservação do mundo: sem a mulher não existe vida, sendo, segundo os mitos, ser reverenciada e respeitada pelos orixás e pelos homens.
As GÈLÈDÈ e suas máscaras se tornam uma metáfora, sendo uma linguagem para a mãe natureza. O GÈLÈ é um símbolo das GÈLÈDÈ porque personifica o útero, pois ele carrega as crianças e as protege. Através das Ìyámì (mães ancestrais) a arte das máscaras é usada para aglutinar as pessoas que se relacionam como filhos de uma mesma mãe, fazendo com que o espírito se manifeste através desta máscara, seguindo e alimentando o espírito humano. Representam o não uso da violência para resolver questões. Nas culturas negras a mulher está presente em todos os lugares.
As máscaras tem grande importância na vida religiosa, social e política da comunidade, mostrando as diferentes categorias de mulher:
- mulher secreta – ligada ao divino, serve como passagem e receptáculo do sagrado no mundo dos vivos, por gerar frutos.
-mulher símbolo político – não usa violência para resolver as questões, aglutinando as pessoas, vivendo o cotidiano.
- mulher sagrada – símbolo de todos os tempos, pois está virada para o futuro, sempre vulnerável e frágil, mas é aquela que abre o céu (Òrun) e deixa lugar para a mudança, o futuro, e para a transformação.
A sexualidade da mulher negra faz parte da sua essência de princípio feminino, sendo muitos os mitos que representam a função e o papel mulher vista como útero fecundado, cabaça que contem e é contida, responsável pela continuidade da espécie e pela sobrevivência da comunidade. Não se encontra pecado nesta sexualidade.
Através das ÌYÁ as comunidades – terreiros se constituam num verdadeiro sistema de alianças. Desde a simples condição de irmão de santo até a mais complexa organização hierárquica, há o estabelecimento de um parentesco comunitário, como uma recriação das linhagens e da família extensiva africana. Os laços de sangue são substituídos pelos de participação na comunidade, de acordo com a Antigüidade, as obrigações e a linhagem iniciática. Todos estão unidos por laços de iniciação às divindades cultuadas, aos demais iniciados, às autoridades, aos antepassados e aos ancestrais da comunidade.
Através do rito se tem todo um sentido de manifestação das mulheres do grupo: rodando, dançando, se integrando com o cosmos, mostrando que temos consciência de que somos elementos dinâmicos, de que o movimento da roda – já que as mulheres são os elementos que dançam em círculo – representa o altar da criação, da vida, já que a terra está em movimento, o universo está em movimento e só se conseguirá estar em sintonia com o universo através do movimento.
GÈLÈDÈ é originalmente uma forma de sociedade secreta feminina de caráter religioso, existente nas sociedades tradicionais yorubás, que expressam o poder feminino sobre a fertilidade da terra, a procriação e o bem estar da comunidade.
O culto Gèlèdè visa apaziguar e reverenciar as mães ancestrais para assegurar o equilíbrio do mundo. As principais representações do culto também nos fala um itòn de òséyèkú, que obàtálá e odù logbojé são uma única coisa e no culto a Obàtálá, Òsòrongà é diretamente participante, o próprio itòn nos fala:”tudo aquilo que o homem vier a conseguir na terra, o será através das mãos das mulheres. Esta é uma tradição do culto a Obàtálá, pela relação direta de Yemoja Odùa. – ìtòn òsá méjì (o mito da roupa de Éégún)- quanto ao culto Èfé –Gèlèdè, os homens participam, até nas chamadas”incorporações”- dàpò sòkan – e uma das principais diferenças, estão nas próprias danças rituais, quando ”feminina”e lenta e nobre, quando”a masculina” é firme e agressiva, e cabe aos òsò de Òòsààlà’ esta função.- Seja ako, baká, mundiá, tetedè, okunriu, onilu e ”às outras”.
Mas quando se trata da essência da filosofia, na relação Obàtálá (símbolo da ancestralidade masculina) e, Yemoja Odùa – (Òsòròngà – símbolo da ancestralidade feminina) como uma relação perfeita, trazida por Òsé-òyèkú, e também pela relação de ambos com Ikú.
O culto anual de Èfé -Gèlèdè, originário da cidade de Ketu no décimo quarto século, é organizado no começo da estação agricultural exatamente por uma importante questão dentro da cultura Yorùbá – a Fertilidade. Este culto se organiza da seguinte forma- sua parte diurna é exatamente Gèlèdè e sua parte noturna é Èfé (o pássaro). Os dançarinos são homens, contudo representam homens e mulheres em suas representações. Isto prova que o culto das Gèlèdè não é vetado aos Homens.
Na dança feminina Gèlèdè é poderosa e contida, entretanto, na dança masculina é violenta e agressiva. Os nomes citados são os próprios nomes das 9 principais Gèlèd è em sua ordem de entrada na praça do mercado, pois este culto, e na verdade todos de acordo com a direção da cabaça de Odù que vai ser desperta (òséyèkú) deveriam ser feitos ao livre como nos ensina o antigo culto à Olòrun. Akò, Baká, Mundiá, Tetedè, Okunriu, Onilu, Isa-orò, Alopajanja-eledè e Woogbáwoobaarsan). Sendo assim, é exatamente no conhecimento deste culto que podemos perceber que os homens principalmente os ”òsò” participam de toda uma enorme variedade de fundamentos do culto na sociedade Òsòròngà, pois se assim não o fosse, como explicar o tabu de que as mulheres não podem olhar Odù (ìtòn irètégbè), como entender que são os Bàbáláwo – filhos de Òrúnmílá que entregam as cabaças com os pássaros as mulheres iniciadas no culto à Òsòròngà (itòn irèté méjì)
“Èfé ”são as máscaras rituais que simbolizam o espírito das ancestrais femininas e os diferentes aspectos de seu poder sobre a terra simbolizados pelos pássaros.
As orixás femininas cultuadas nos candomblés brasileiros representam aspectos socializados deste poder conforme a visão de mundo negro africana segundo a qual homens e mulheres se equivalem e controlam determinadas forças da natureza Porém a continuidade da vida sobre a terra, atributo eminentemente feminino nesta tradição é reverenciado de modo especial.
Por isso Obarìsà o grande ancestral masculino canta:
“E kúnl è o, e Kúnl è f’obinrin o
E obinrin l’ó bí wa, k’àwa tó d’enia
Ogbon àiyé t’obinrin ni, e kúnl è f’obinrin
E obinrin l’o bí wa o, k’àwa tó d’enia”
(Ajoelhem-se para as mulheres. A mulher nos colocou no mundo, nós somos seres humanos A mulher é a inteligência da terra. A mulher nos colocou no mundo, nós somos seres humanos).
ÌYÁMÍ Ò S ÒRÒNGÀ
O f ó (Encantamento)
Mo júbà ènyin ÌYÁMÍ Ò S ÒRÒNGÀ.
(Meus Respeitos a Vós Minha Mãe OXORONGA!)
Mo júbà è nyin Ìyámí Ò s òròngà
O T ò n ó n È j è e nun
O T òo k ó n è j è è d ò
Mo júbà è nyin Ìyámí Ò s òròngà
O T ò n ó n È j è e nun
O T òo k ó n è j è è d ò
È j è ó yè ní Kál è o
Ó yíyè, yíyè, yèyé kòkò
È j è ó yè ní Kál è o
Ó yíyè, yíyè, yèyé kòkò (Meus respeitos a vós minha mãe Oxoronga)
Vós que seguíeis os rastros do Sangue interior.
Vós que seguíeis os rastros do sangue do coração e do sangue do fígado.
Meus respeitos a vós minha mãe Oxoronga
Vós que seguíeis os rastros sangue interior
Vós que seguíeis os rastros do sangue do coração e do fígado
O sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos, e ele sobrevive, sobrevive ó mãe muito velha o Sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos e ele sobrevive, ó mãe muito velha)
Ìyámì Òsòròngá não é um orixá, mas sim uma energia ancestral coletiva feminina, cultuada pelas GÈLÈDÈ; sociedade feminina fechada da Ìyámì Eléeye (minha mãe senhora dos pássaros), representada pela máscara dos pássaros. A sociedade Òsòròngá congrega as àjé–feiticeiras que têm poderes de se
transformarem em determinados pássaros è hurù, e luùlú, àtióro, àgbìgbò e ò s òròngà, este ultimo refere-se ao próprio som que a ave emite e da nome a Sociedade. Exercem sua força máxima nos horários mais críticos – meio-dia e meia-noite – ocasiões em que é preciso muita cautela para que elas não pousem na cabeça de ninguém.
Suas cerimônias são realizadas no início da estação do plantio relacionado à fertilidade. Estas cerimônias tiveram início na região de Ketú, dividindo-se em duas partes a diurna e a noturna. Segundo nos conta um ìtàn do Odù Ogbé Òsá, diz que quando as Ìyámìs chegaram do Òrun pousaram em sete árvores.
Segundo um Ìtòn as 7 ávores das Ìyámìs seriam:
Orobo – Garcinea Cola
Àjànrèré – Ficus Elegans
Iroko – Chlorophora Excelsis
Orò – Antiaris Africana
Ogun Bereké – Delonex Régia
Arere – Triplochiton Nigericum
Igi ope – Elaeis Guineensis
Porém outra ìtàn nos da outra apresenta uma relação diferente das sete árvores estas seria as árvores sagradas das Mães Ancestrais:
Ose – Adansanonia Digitalia
Iroko – Chlorophora Excelsis
Ìyá – Daniellia Olivieri
Asunrin – Erythrophelum Guineense
Obobo – Não identificada
Iwó – Não identificada
Arere – Triplochiton Nigericum
A contrario do que se pensa aqui no Brasil existe sim a presença masculina no culto a ìyámí. São detentoras de poderes terríveis, consideradas as donas da barriga(por onde circularia a energia vital do corpo) Ninguém pode com seus Ebo, dos quais, o Òjijì (sombra) é o mais fatal. São ligadas diretamente ao ODU ÒYEKU MEJI, são propiciadoras para a alteração do destino de uma pessoa. Seus poderes são tamanhos que só se consegue no máximo apaziguá-las, vence-las jamais. Relacionam-se com as ìyámìs Òsun Ijumu e Òsun Ìyánlá a quem estão ligadas pela ancestralidade feminina, bem como a Yemoja Odúa, considerada fundadora do culto GÈLÈDÈ.
Deve-se lembrar portanto, que ”òsò” é um título de quem trás o Égan (símbolo de Èsù o qual foi dado através das mãos de Òsòròngà(itò nòs éòtúrá) e mesmo assim se foi iniciado no tradicional culto de `Obàtálá /Yemoja Odùa e ainda tiver profunda relação com Ikú, através de algumas se suas principais ònifás, como Òyèkú méjì, Òbàrà méjì, Òtúrúpòn méjì e algumas outras poucas.O sangue (èjè) não é de nenhum Òrìsà a não ser de Òsòròngà como vemos no Oriki (èjè ó yèní kálèo – o sangue fresco que recolhe na terra cobre-se de fungos).
Afirma a tradição que as Ìyámí segue o rastro do sangue do fígado e do coração, isto se deve por os chamados Àse das oferendas são de Òsòròngà! estes orgãos se classificam em comportamentos Ofú (aqueles que produzem a fazem circular a energia no corpo) estômago, bexiga, vesícula biliar, intestino grosso e o intestino delgado, como também em comportamentos Osa (coração, pulmões, rins, fígado e baço – pâncreas) Estes detalhes são importantíssimos no culto à Òsòrongà e principalmente no culto Èfé -Gèlèdè ainda mais se falamos do sacrifício de elédé (porco).
Relacionam-se com Òsòròngà:
Èsù : somente com sua ajuda é que conseguimos a comunicação com as Ìyámí, além de ser a prova viva do poder das Ìyámís.
Ògún: o senhor da cabaça de èédú (carvão) – onà iwó oòrùn (caminho do oeste) é bem mais íntimo de Òsòròngà, se não fosse ele o senhor do sagrado ato da oferenda de animais, juntamente com Èsù e Òsòròngà. Yemoja Odùa Yemòwo) Grande Ìyá, Senhora do ìgbá- eye (cabaça dos pássaros) é a Ìyá’nlá seu nome é modificação da palavra Odù Logboje, a mulher primordial, também denominada Eleyinjú Egé, a dona dos olhos delicados fazendo parte das divindades geradoras representada pelo Preto, fundadora do culto e sociedade Gèlèdè.
Òsun :Grande protetora da gestação, é a Ìyámí-Àkókó, mãe ancestral suprema. Òsun Ìjimu e Ìyánla:A duas mais velhas Òsun, são as duas ancestrais das mulheres. Nàná: patrona da lama e dos primórdios da criação do Àiyé, é a Omo Àtìóro oké Ofa, pássaro símbolo do poder
feminino. Olórí ìyá-àgbà Àjé Eléye, chefe supremo de nossas mães ancestrais possuidoras do spássaros. Ògágun ati Ò gájùlo ninu awon ìyámí òsòròngà, chefe supremo, comandante entre todas as Ìyámí,
Òrúnmìlà: Este foi o único òrìsà que quando as ìyámí estavam zangadas conseguiu apaziguar sua fúria e desta forma salvou o àiyé e restabeleceu a Harmonia, entre os Homens e Mulheres.Toda mulher é uma Ajé, porque as Ìyámí controlam o sangue menstrual elas representamos poderes místicos das mulheres no seu aspecto mais perigoso.São as Avós, as mães em cólera que em sua boa vontade a própria vida na terra não teria continuidade.
Ìtàn do Odù Òsá Méjì
* Odùa TORNA-SE Ìyámí *
Nos primórdios da criação, Olódùmarè, o Ser Supremo que vive no Ò run, mandou vir ao àiyé (universo conhecido) três divindades:Ògún (senhor do ferro), Obarìsà (senhor da criação dos homens) (2 -Um dos òrìsà funfun, isto é, òrìsà que têm como principal preceito o uso do branco nos ritos e nas oferendas) e Odùa(Yemoja), a única mulher entre eles.Todos eles tinham poderes, menos ela, que se queixou então a Olódúnmarè.
Este lhe outorgou o poder do pássaro contido numa cabaça (ìgbá eléye) e ela se tornou então, através do poder emanado de Olódùmarè, Iyá Won, nossa mãe para eternidade (também chamada de Ìyámí Òsòròngà, minha mãe Òshòròngà).
Mas Olódùmarè a preveniu de que deveria usar este grande poder com cautela sob pena de ele mesmo repreendê-la.
“Olódùmarè diz qual é o seu poder?
Ele diz: você será chamada para sempre de Mãe de todos.
Ele diz:você dará continuidade.
Olódùmarè lhe entrega o poder.
Ele entrega o poder de e l é iy e para ela.
Ela recebe, o pássaro de Olódùmarè.
Ela, recebe, então, o poder que utilizara com ele.
Ele diz:utilize com calma o poder que eu te dei a você.
Se você utilizar com violência, ele o retomara.
Porque aquela que recebeu o poder se chamar Odù.
O homem não poderá fazer nada sozinho na ausência da mulher”
“Lati ìgbá náà ni Olódùmarè ti fun obirin l’à se”
(Desde aquela época, Olódùmarè outorgou axé as mulheres)
Elas exerciam todas as atividades secretas:
“O mú Éégún jáde
O mú Orò jáde
Gbogbo nkan, kò si ohun ti ki se nigba náà”
(Ela conduz Egun
Ela conduz Orò
todas as coisas, não ha nada que ela não faça nesse tempo)
Mas ela abusou do poder do pássaro. Preocupado e humilhado, Obarì sà foi até Òrúnmìlà fazer o jogo de Ifá, e ele o ensinou como conquistar apaziguar e vencer Odùa, através de sacrifícios, oferendas(ebo com ìgbín e pas ò n Haste de Àtòrì) e astúcia.
Ele lhe oferta e ela negligentemente, aceita, a carne dos ìgbín.
“Odù náà gba omi ìgbín, o mu ú
Nigbati Odù mu omi ìgbín tán, inú Odù nr ò di e di e”
(Odù recebe a água de caracol para beber, quando odù bebeu, o ventre de Odù se apaziguou)
Obarìsà e Odùa foram viver juntos. Ele então lhe revelou seus segredos e, após algum tempo, ela lhe contou os seus, inclusive que cultuava Éégún. Mostrou-lhe a roupa de Éégún, o qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava. Juntos eles cultuaram Éégún.
Aproveitando um dia quando Odùa saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de Egúngún. Com um bastão na mão (opa), Obarìsà foi à cidade (o fato de Éégún carregar um bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas.
Quando Odùa viu Éégún andando e falando, percebeu que foi Obarìsà quem tornou isto possível. Ela reverenciou e prestou homenagem a Éégún e a Obarìsà, conformando-se com a vitória dos homens e aceitando para si a derrota. Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em Éégún, e lhe outorgou o poder: tudo o que Éégún disser acontecerá. Odùa retirou-se para sempre do culto de Egúngún, e partiu para partir o culto Gèlèdè. Só eléiye, indicara seu poder e marcara a relação entre Egúngún e Ìyámí.
“Gbogbo agbára ti Egúngún si nlò agbára e l é iy e ni.”
(Todo o poder que utilizara Egúngún é o poder do pássaro)
O conjunto homem-mulher dá vida a Egúngún (ancestralidade) mas restringe seu culto aos homens, os quais, todavia, dos abusos de Odùa. Também por esta razão é que as mulheres mortas são cultuadas coletivamente e somente os homens têm direito à individualidade, através do culto de Egúngún.
LENDAS
Odùa torna-se Iyami
Nos primórdios da criação, Olodumarê, o Ser Supremo que vive no orun, mandou vir ao ayê (universo conhecido) três divindades: Ogum (senhor do ferro), Obarixá (senhor da criação dos homens) (2 – Um dos orixás funfun, isto é, orixás que têm como principal preceito o uso do branco nos ritos e nas oferendas; em algumas regiões Obarixá é adotado como um cognome de Oxalá) e Odu, a única mulher entre eles. Todos eles tinham poderes, menos ela, que se queixou então a Olodumarê. Este lhe outorgou o poder do pássaro contido numa cabaça (igbá eleiye) e ela se tornou então, através do poder emanado de Olodumarê, Iyá Won, nossa mãe para eternidade (também chamada de Iami Oxorongá, minha mãe Oxorongá). Mas Olodumarê a preveniu de que deveria usar este grande poder com cautela, sob pena de ele mesmo repreendê-la.
Mas ela abusou do poder do pássaro. Preocupado e humilhado, Obarixá foi até Orumilá fazer o jogo de Ifá, e ele o ensinou como conquistar, apaziguar e vencer Odu, através de sacrifícios, oferendas e astúcia.
Obarixá e Odu foram viver juntos. Ele então lhe revelou seus segredos e, após algum tempo, ela lhe contou os seus, inclusive que adorava Egum. Mostrou-lhe a roupa de Egum, o qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava. Juntos eles adoraram Egum.
Aproveitando um dia quando Odu saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de Egum. Com um bastão na mão, Obarixá foi à cidade (o fato de Egum carregar um bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas. Quando Odu viu Egum andando e falando, percebeu que foi Obarixá quem tornou isto possível. Ela reverenciou e prestou homenagem a Egum e a Obarixá, conformando-se com a supremacia dos homens e aceitando para si a derrota. Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em Egum, e lhe outorgou o poder: tudo o que Egum disser acontecerá. Odu retirou-se para sempre do culto de Egugun.
O conjunto homem-mulher dá vida a Egum (ancestralidade), mas restringe seu culto aos homens, os quais, todavia, prestam homenagem às mulheres, castigadas por Olodumarê através dos abusos de Odu. Também por esta razão é que as mulheres mortas são cultuadas coletivamente, e somente os homens têm direito à individualidade, através do culto de Egum.
(Revista Planeta n.º 162 – março 86)
(1)
Iá Mi chegam ao mundo com seus pássaros maléficos
As Iá Mi Oxorongá são as nossas mães primeiras,
raízes primordiais da estirpe humana, são feiticeiras.
São velhas mães feiticeiras as nossas mães ancestrais.
As Iá Mi são o princípio de tudo, do bem e do mal.
São vida e morte ao mesmo tempo, são feiticeiras.
São as temidas ajés, mulheres impiedosas.
As Oxorongá já viveram tudo o que se tem para viver.
As Iá Mi conhecem as fórmulas de manipulação da vida,
para o bem e para o mal, no começo e no fim.
Não se escapa ileso do ódio de Iá Mi Oxorongá.
O poder de seu feitiço é grande, é terrível.
O poder de seu feitiço é grande, é terrível.
Tão destruidor quanto é construtor e positivo o axé,
que é a força poderosa e benfazeja dos orixás,
única arma do homem na luta para fugir de Oxorongá.
Um dia as Iá Mi vieram para Terra e forma morar nas árvores.
As Iá Mi fizeram sua primeira residência na árvore do orobô.
Se Iá Mi está na árvore do orobô e pensa em alguém,
este alguém terá felicidade, será justo e viverá muito na Terra.
As Iá Mi Oxorongá fizeram sua segunda morada
na copa da árvore chamada araticuna da areia.
Se Iá Mi está na copa da araticuna da arei e pensa em alguém,
tudo aquilo que essa pessoa gosta será destruído.
As Iá Mi fizeram sua terceira casa nos galhos do baobá.
Se as Iá Mi está no baobá e pensa em alguém,
tudo aquilo o que é do agrado dessa pessoa lhe será conferido.
As Iá Mi fizeram sua quarta parada
no pé de Iroco, a gameleira-branca.
Se Iá Mi está no pé de Iroco e pensa em alguém,
essa pessoa sofrerá acidentes e não terá como escapar.
As Iá Mi fizeram sua quinta residência nos galhos do pé de Apaocá.
Se Iá Mi está nos galhos do Apaocá e pensa em alguém,
rapidamente essa pessoa será morta.
As Iá Mi fizeram sua sexta residência na cajazeira.
Se Iá Mi está na cajazeira e pensa em alguém,
tudo o que ela quiser poderá fazer,
pode trazer a felicidade ou a infelicidade.
As Iá Mi fizeram sua sétima moradia na figueira.
Se Iá Mi está na figueira e alguém lhe suplica o perdão,
essa pessoa será perdoada pela Iá MI.
Mas todas as coisas que as Iá MI quiserem fazer,
se elas estiverem na copa da cajazeira,
elas o farão,
porque na cajazeira é onde as Iá Mi conseguem seu poder.
Lá é sua principal casa, onde adquirem seu grande poder.
Podem mesmo ir rapidamente ao além, se quiserem,
quando estão nos galhos da cajazeira.
Porque é dessa árvore que vem o poder das Iá Mi
e não é qualquer pessoa
que pode manter-se em cima das cajazeiras.
Elas vieram para a Terra.
Eram duzentas e uma e cada qual tinha o seu pássaro.
Eram as mulheres pássaros, donas do eié,
eram as mulheres eleié, as donas do eié.
Quando chegaram, foram direto para a cidade de Otá
e os babalaôs mandaram preparar uma cabaça para cada uma.
Elas escolheram sua ialodê, sua sacerdotisa.
Foi a ialodê quem deu a cada eleié
uma cabaça para guardar seu pássaro.
Então, cada Iá Mi partiu para sua casa
com seu pássaro fechado na cabaça
e lá cada uma guardou secretamente sua cabaça
até o momento de enviar o pássaro para alguma missão.
Quando Iá Mi abre a cabaça,
o pássaro vai, seja onde for,
aos quatro cantos do mundo ele vai e executa sua missão.
Se é para matar, ele mata.
Se é para trazer os intestinos de alguém,
ele espreita a pessoa marcada para abrir seu ventre
e colher seus intestinos.
Se é para impedir gravidez,
ele retira o feto do ventre da mãe.
Ele faz o que lhe for ordenado e volta para sua cabaça.
Iá Mi, então, recoloca a cabaça em seu lugar secreto.
Mas, se a pessoa possui um encantamento contra a feiticeira,
ele deve dizer a seguinte formula:
“Que aquela que vos enviou para me pegar, não me pegue”
Assim, por mais que tente, o pássaro não poderá executar sua tarefa.
Sua dona terá de ir em busca do auxílio das outras Iá Mi.
Ela vai à assembléia e relata seu problema.
As ajés, as feiticeiras, devem trabalhar com ela,
porque não podem realizar sua tarefa sozinhas.
Então, Iá Mi leva um pouco do sangue da pessoa que quer prejudicar.
Todas as outras Iá Mi o põem na boca e o bebem.
Depois, elas se separam e não deixam dormir a vítima.
O pássaro é capaz de carregar um chicote,
pegar um cacete,
tornar-se alma do outro mundo,
e até mesmo pode ter o aspecto de um orixá;
tudo para aterrorizar a pessoa à qual foi enviado.
Assim são as Iá Mi Oxorongá.
Esta é a sua história.
(Mitologia dos Orixás, 2001, pp.351-352]
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